Um consentimento deve ser dado de forma livre e esclarecida. A autonomia, objectiva e subjectiva, pode ser prejudicada pela ignorância, medo, manipulações, sofrimento e qualquer coação que influencie a decisão pessoal. Por isso, um consentimento, só tem validade moral se a pessoa se aperceber dos riscos, limitações e benefícios que o mesmo traz. Deve, por conseguinte, ser fornecida informação ajustada para reflectir, ponderar, discernir e decidir sem indevidas pressões.
Lembro-me de, há quinze anos, termos, por imposição do Decreto-Lei 244/94, de fazer o registo de não dador caso não quiséssemos doar os nossos órgãos. Registo de "Não Dador", porque não registo de "Dador"? Pressupõe-se, nesta legislação, que todos os portugueses querem ser dadores, grave porque, num regime democrático, o cidadão diz o que quer, não o que não quer. Quem desconhece a lei, muita gente, é, à partida, obrigado a ser dador sem saber que o é. A doação presumida viola o princípio da autonomia da vontade e da dignidade da pessoa humana. Presumindo-se que um individuo é dador roubasse-lhe a autonomia de decidir sobre o destino do seu corpo. Só este facto levou-me a contestar a lei. Queriam, por inactividade, imporem-me uma decisão.
Sendo, esta, uma decisão de suma importância, estava sempre em jogo uma vida humana, tentei informar-me sobre o assunto, auscultando várias opiniões que me esclarecessem sobre o significado de "post mortem", após a qual seria feita a colheita dos órgãos e tecidos. O decreto-lei, referido, primava pela ausência deste esclarecimento o que limitava a tomada de uma decisão. Feita uma pesquisa, não muito detalhada, conclui que post mortem, morte cerebral, estado de coma profundo, era diagnosticada estando, ainda, o coração a bater. A equipa de transplantadores não seria a mesma que faria os testes de morte cerebral, o que parecia deixar algumas pessoas descansadas. A mim nada me dizia esta referência. Seria possível os segundos verificarem se os primeiros cometeram algum erro? Não me parece.
Como se depreende, por tudo que aqui foi dito, a minha única dúvida permanecia no facto de os órgãos terem que ser retirados quando o dador ainda tinha o coração a bater o que, para mim, significava vida. A morte cerebral seria morte? Não estarei eu viva enquanto o meu coração estiver a bater?
Sendo, esta, uma decisão de suma importância, estava sempre em jogo uma vida humana, tentei informar-me sobre o assunto, auscultando várias opiniões que me esclarecessem sobre o significado de "post mortem", após a qual seria feita a colheita dos órgãos e tecidos. O decreto-lei, referido, primava pela ausência deste esclarecimento o que limitava a tomada de uma decisão. Feita uma pesquisa, não muito detalhada, conclui que post mortem, morte cerebral, estado de coma profundo, era diagnosticada estando, ainda, o coração a bater. A equipa de transplantadores não seria a mesma que faria os testes de morte cerebral, o que parecia deixar algumas pessoas descansadas. A mim nada me dizia esta referência. Seria possível os segundos verificarem se os primeiros cometeram algum erro? Não me parece.
Como se depreende, por tudo que aqui foi dito, a minha única dúvida permanecia no facto de os órgãos terem que ser retirados quando o dador ainda tinha o coração a bater o que, para mim, significava vida. A morte cerebral seria morte? Não estarei eu viva enquanto o meu coração estiver a bater?
Acreditava e acredito que o milagre acontece com a força da vida. Assim sendo, como pode alguém, extrínseco a mim, medir a minha força de vida? Como pode alguém decidir matar-me quando eu ainda vivo e quero viver? Como pode alguém decidir, além de mim, o valor da minha vida?
Houve tanta gente que acordou no meio das frias pedras de mármore de uma morgue. Porquê? Como pode isso acontecer se houve um médico que passou a certidão de óbito? Como pode, ainda, alguém ser encontrado virado no caixão?
Há algo não conhecido, algo que pode ser o culpado por se aniquilar uma vida. Matar uma vida para se salvar outra? Qual das duas tem mais importância? A do dador ou a do receptor? A do dador, a vida é dele.
Há algo não conhecido, algo que pode ser o culpado por se aniquilar uma vida. Matar uma vida para se salvar outra? Qual das duas tem mais importância? A do dador ou a do receptor? A do dador, a vida é dele.
Têm surgido várias notícias sobre pessoas que estiveram em coma e dizem ter ouvido e entendido o que se passava ao ser redor. Pessoas que estiveram, muitos anos, em coma e recuperaram.
Salvatore Crisafulli, italiano, agradece ao irmão o facto de ainda estar vivo. Os médicos diziam que tudo estava perdido, que tudo seria inútil, que ele morreria em três ou quatro meses. Não está morto.
Em Junho de 2007 surge a notícia de um polonês que permaneceu 19 anos em coma, depois de ter sido atropelado por um trem, surpreendeu os médicos ao retomar a consciência. Jan Grzebski, com 65 anos, ficou espantado com as mudanças na Polónia, no mundo e na sua família quando acordou. A Polónia vivia, agora, em democracia, abraçava o capitalismo, o muro de Berlim tinha caído, os telemóveis imperavam, os seus quatro filhos tinham casado e tinha onze netos. Deve a sua vida à mulher que acreditou na sua recuperação, durante dezanove anos.
Mais recentemente surge a informação que um belga de 43 anos, em aparente estado de coma, durante vinte e três anos, via, ouvia e sentia tudo à sua volta. Um erro de diagnóstico fez com que Rom Houben vivesse um autêntico martírio. Os médicos pensavam que ele estava num estado vegetativo e, ele, sabia tudo o que se estava a passar. Steven Laureys, neurologista da Universidade de Liége, Bélgica, após tantos anos, descobre, fazendo-lhe uma tomografia de última geração, que, apesar de ele ter perdido todo o controle sobre o seu corpo, estava consciente.
Este mês surge a notícia:
Cientístas americanos conseguiram identificar sinais de consciência num paciente em estado vegetativo e descobriram que, este, mentalmente, respondia às perguntas que lhe faziam.
Assim sendo, ser ou não dador não é um acto ou não de solidariedade, é um acto de confiança, ou não, na ciência e nos técnicos intervenientes na tomada de decisão.
Enquanto há vida há esperança e, em ciência, o que hoje é certo amanhã poderá não sê-lo. Se nos lembrarmos, então, que errar é humano teremos, ainda, mais dúvidas no que se relacionar com a vida humana. Não decidam desligar a máquina, deixem que a natureza decida por vós, que ela tome o seu curso normal, não esquecendo que o que pode salvar também pode matar.
Foi, sem dúvida, descoberta a voz do silêncio, compete-nos, agora, dar-lhe voz e ouvi-la.
Enquanto há vida há esperança e, em ciência, o que hoje é certo amanhã poderá não sê-lo. Se nos lembrarmos, então, que errar é humano teremos, ainda, mais dúvidas no que se relacionar com a vida humana. Não decidam desligar a máquina, deixem que a natureza decida por vós, que ela tome o seu curso normal, não esquecendo que o que pode salvar também pode matar.
Foi, sem dúvida, descoberta a voz do silêncio, compete-nos, agora, dar-lhe voz e ouvi-la.
Fotografia: Site photobucket
Brown Eyes
Comentários
Texto poderoso este teu... fico sempre sem fôlego! :D BJS
Agora, confesso que, depois de ler isto mudei de opinião em relação a situações de pessoas que não eu...
lutaria por elas definitivamente.
Alias,minto. Acho que é louvável a fé dos parentes de pessoas que estão em coma em sua volta a consciencia.
Existe o outro lado da moeda, sabe?
E posso compartilhar esse lado porque o senti e sinto na pele.
Minha mãe, em 1978, descobriu que tinha fígado/rins/ovários policísticos. De acordo com os médicos, somente depois de uns 20 anos ela sentiria os efeitos desta doença.
Não deu outra. Em 98, ela começou a fazer diálise porque seus rins pararam de funcionar.
Logo suas irmas foram fazer teste de compatibilidade para ver quem seria capaz de fazer a doação. Das 5 irmas, nenhuma compatível.
Nós, somos 4 filhos. Queríamos fazer os testes também. Mas soubemos então que 2 de nós temos a mesma doença.
Ou seja, daqui a um tempo, meus 2 irmãos precisaraão de um de meus rins e do de outra irma.
Por causa disto, minha mãe nem deixou fazermos testes para ver se poderíamos ser doadores dela. Ela queria ter a certeza d euqe teríamos rins para doar a nossos irmãos.
Ela fez diálise por 2 anos, e em 2000 um dos cistos do fígado se rompeu. Teve hemorragia interna e foi internada. Precisava de um novo fígado.
De acordo com o hospital, haviam 3 pessoas que tinham condições de fazer a doação para ela. Mas os parentes não o quiseram. Ela faleceu 7 dias apos sua entrada no hospital.
Nós não somos nada. Somos casca , e pó.
Nunca pensei sequer por um segundo em não ser doadora de órgão porque "enquanto o coração bate há vida" e outros.
Se há chance maior de eu poder ajudar alguém com mais chance de sobreviver do que eu, porque não o faze-lo? Egoísmo demais, a meu ver.
Fica na paz.
Beijinhos
Beijinhos
Beijinhos e obrigado por teres deixado a tua opinião, de alguém, que viveu e vive parte deste problema.
Beijinhos grande.
Se eu tivesse alguém querido, cujo coração ainda batesse e alguém precisasse dos seus órgãos para sobreviver, os meus sentimentos provavelmente não me deixariam decidir com clareza, pois queremos fazer tudo para salvar esse alguém. Acreditamos na esperança e nos milagres que referes, raros mas que acontecem.
Por outro lado, se eu tivesse um ente querido a precisar de um órgão de alguém clinicamente dado como morto, eu iria implorar pelos seus órgãos para o salvar.
Mas acho que a questão levantada, nem é tanto esta, a da escolha, e sim a de podermos decidir o que queremos fazer com o nosso corpo depois da vida o abandonar. Desconhecia essa lei, que somos todos dadores até manifestarmos vontade de não o sermos. Pensei que fosse precisamente o contrário, mas neste momento se me perguntassem o que quero fazer, creio que diria que sim.
Se os meus órgãos podem salvar alguém, com uma hipótese de vida de melhor qualidade do que aquela a que estarei reservada, porque não? Afinal somos todos familiares de alguém.
Excelente post! Beijinho :)
enquanto estou de perfeita saúde e vivinha, até posso ponderar numa situação dessas, é muito gratificante poder ajudar os outros... mas só se a minha vida não depender disso... claro!! E pulmões é para esquecer... fumo que nem um cavalo...
Mas se o problema é a lei, que se assinem termos de responsabilidade... se a pessoa não o puder fazer... uma impressão digital é uma assinatura... por outro lado, uma máquina só poderá ser desligada com autorização de alguém próximo (muito próximo): marido/mulher, filhos ou pais... aliás a isso chama-se eutanásia, que julgo, é proibida em Portugal.
Beijinho grande*** e Força!
É isso apenas que pretendo: decidir em consciência mas para tal tenho que ser correctamente informada de todos os prós e contras e, até, das lacunas existentes. O que não é feito. Juana quem seria a tua colega para ser tão prontamente atendida? Pois é que também há esse problema na saúde, se és conhecida tudo corre sobre rodas se não és, como o caracol. Beijinhos
Eva lê os comentários e verás que muita gente não sabe da existência dessa legislação. A alternativa está a ser estudada, órgãos arteficiais. Aí sim está a alternativa. Lógico que não sou contra a retirada de órgãos de uma pessoas decapitada, percebes? Só que neste caso não são retirados porque a pessoa está morta. Agora de uma pessoa viva NÃO, por amor de deus. É UMA VIDA. Eu posso estar a precisar de órgãos mas jamais quereria viver sabendo que outro morreu para eu viver. NUNCA. Se alguém tinha que morrer que fosse eu. É uma questão de princípio. Mesmo que esse alguém tivesse uma vida a vegetar, a vida dele é sempre mais importante que a minha. Beijinhos
Passámos 38 dias a saber informações e a mesma resposta, sempre: estado sem alteração!
O que se passava na minha cabeça era terrível: não sabia o que era melhor, que morresse o mais breve possível, já que NADA havia a fazer ou continuar a esperar, sem sequer saber ao certo, se estava a sofrer ou não (a ciência parece ainda não ter resposta para isso).
Portanto o coma, e a morte cerebral em que ela esteve uns dias antes, tudo isso é muito complicado e doloroso para mim.
Compreendo o teu ponto de vista, mas também sei que, não havendo absolutamente nada a fazer, talvez uma vida seja salva e nada me diz se amanhã, eu ou algum familiar não esteja nessa situação.
É um problema de consciência.
Beijinho.
Tenho de pensar bem no que escreveste e no que foi dito aqui.
Foi uma boa ideia este post,fiquei mais esclarecida, e colocaste aqui algumas questões que me fazem pensar.
Bjocas
Patty
O ÚNICO PORMENOR QUE SEI É TEMOS VOTO NA MATÉRIA...PODEMOS DEIXAR UMA NOTA A DIZER A NOSSA VONTADE...MAS NÃO SEI SE NA PRÁTICA É ASSIM...
DEPOIS..NÃO SEI QUAL A UTILIDADE DE ALGUÉM FICAR UMA CAMA,EM ESTADO COMA PROFUNDO OU VEGETATIVO, SEM PODER FAZER RIGOROSAMENTE NADA ...JÁ QUE ALGUÉM DECIDIU LIGAR UMA MÁQUINA...É VIDA ARTIFICIAL...NÃO É A VONTADE DE DEUS...
MUITAS VEZES A DECISÃO É A EUTANÁSIA...OUTRO TEMA COMPLEXO...MAS CADA UM DEVIA TER O LIVRE ARBÍTRIO DE DECIDIR PELA SUA VIDA...E SE AS PESSOAS ACHAM QUE DEVEM DOAR OS SEUS ORGÃOS PORQUE NÃO?EM PROLE DE UMA VIDA QUE JÁ UMA ESTÁ PRESTES A IR... RENASCE OUTRA...
ISTO É SER SOLIDÁRIO...É ÓBVIO QUE DEPENDE DOS CASOS...
NA MINHA OPINIÃO O ESTADO VEGETATIVO É DEPRIMENTE PARA UM PACIENTE ..A NÃO SER QUE ELE MANIFESTE QUERER VIVER...AÍ TEM TODO O DIREITO...
LEMBREI-ME AGORA QUE HÁ ALGUNS ANOS ATRÁS...EU VI UM PROGRAMA NO ODISSEIA QUE ME FEZ ESTREMECER...RELATAVA CASOS DE PESSOAS QUE TINHAM VIDAS DIFERENTES...HAVIA UM CIENTISTA QUE ERA MAIS PEQUENO QUE UM ANÃO,MUITO INTELIGENTE, E QUE TINHA TESES BEM ELABORADAS E CONCEITUADAS E A CABEÇA DELE ERA MONSTRUOSA...OUTRO CASO ERA UMA SENHORA SÓ COM TRONCO...SEM BRAÇOS,SEM PERNAS ...ERA CASADA COM UM HOMEM PERFEITAMENTE "NORMAL" E TINHAM RELAÇÕES SEXUAIS SAUDAVÉIS E ELE PRÓPRIO DIZIA-SE MUITO SATISFEITO...
EU PESSOALMENTE SEI POUCO PARA ME PRONUNCIAR MAS GOSTEI MUITO DE TE LER...É A TUA OPINIÃO E COMO TAL TAMBÉM DEVE SER RESPEITADA...
BOM FIM DE SEMANA
BOM CARNAVAL
BJOKAS
O que eu sei não é muito mas é enorme a minha vontade de que a vida seja respeitada.Como já disse há anos que me preocupava a vida das pessoas em coma, desde que comecei a investigar sobre o coma por causa da saída da legislação de que falo. Achava que eles eram pessoas vivas e bem vivas. Quando começaram a aparecer estes casos de pessoas que despertavam e contavam que ouviam o que se passava ao seu redor fiquei com a certeza que essa gente estava a sofrer enquanto estavam em coma porque ninguém os ouvia. Engraçado que estas pessoas agradecem, sempre, a quem acreditou que havia alguma coisa a fazer, o que significa que estão contentes por estarem vivas ainda, apesar de terem estado anos em coma.
No aspecto religioso a discussão deste tema depende da religião que o debater. Há religiões que são contra o desmantelamento do corpo e há aquelas que aceitam a doação dos órgãos. Os testemunhas de jeová, por exemplo, que são contra as transfusões de sangue são a favor da dádiva de órgãos. O cristianismo, budismo e a igreja anglicana são a favor.
Beijinhos e bom Carnaval, diverte-te.
E sinceramente, mais vale salvar alguém que possa viver mais 15 anos, do que deixar alguém a vegetar numa cama por 15 anos.
Eu tive uma conversa muito séria com as pessoas que me são próximas e frizei que, se me acontecer algo que me deixe presa a uma cama, prefiro morrer. Para mim viver não é só pensar, não é apenas ter consciencia do que se passa à minha volta e do que os outros dizem. É poder comunicar, escrever, sentir, cheirar, pensar, beijar, tocar... Se eu tive uma vida completa, não me vou contentar com um terço disso ao qual nem sequer posso chamar de vida.
É por isso que eu dou tanto valor à vida. E é também por isso que para mim um dos piores sofrimentos deve ser ter consciência de que estamos dentro de um corpo inútil que não nos deixa viver. Sinceramente, preferia deixar esse corpo para trás.
Mas como já disse no inicio, respeito a tua opinião e ainda bem que, tal como eu mas à tua maneira, dás tanto valor à vida humana :)
Beijinhos**
Até que ponto somos donos do nosso corpo?
A legislação portuguesa diz que a partir do momento em que uma pessoa nasce essa mesma pessoa é dadora de orgãos.
Quem não quiser doar os seus orgãos, por lei, ninguém lhes pode tocar.
Para isso, terá que por sua iniciativa ou através de alguém de direito que o represente (pais no caso de menores) fazer um registo.
Esse registo será feito através de um impresso disponível em qualquer Serviço de Saúde (REGISTO NACIONAL DE NÃO DADORES)
É só pedir o impresso e preenchê-lo.
Em Portugal temos esse direito.
Nascemos dadores mas podemos recusar (ou alguém por nós enquanto menores).
É um tema de que pouco se fala e que é tão importante.
Eu serei dadora até morrer!
Quanto a deixar que a natureza decida por nós... morreríamos todos cedo e as máquinas não seriam necessárias.
Gostei muito do teu post obrigaste-me a pesquisar e a ficar mais elucidada sobre o assunto.
Já é muito tarde... estou com insónias :)
Um beijinho e bom carnaval!
Essa ideia de que, à partida todos dirão que sim, os que não desejarem terão de, escrevendo, dizer que não, é o modelo das companhias de seguros.
O que irrita solenemente.
O estabelecimento do rigor mortis para qualquer pessoa é muito sério.
A partir do seu estabelecimento, alguém decidir uniletaralmente que pode extrair o orgão tal e tal, terá muito que se lhe diga.
Então para aceitar e cumprir os pedidod de eutanásia, os conselhos de ética reunem-se excitad´ssimos para raramente darem o seu acordo, já na recolha de órgãos a etica passa a pesar menos?
Um humilde cidado que deseje entregar o corpo à medicina antes de morrer, tem de fazer testes de sanidade mental para obter autorização, quase é esmagado pela burocracia; morrendo, quem sabe do que poderá ser espoliadao!
Saudações
A minha opinião é no entanto muito simples... para mim um coma não é o mesmo que morte cerebral. Num coma há sempre a esperança que uma pessoa "volte"... na morte cerebral, o cérebro não mostra qualquer actividade. Está morto... apesar do corpo continuar vivo.
Isso não é viver... ser um vegetal não é viver.
Levanta-se a questão destes últimos casos que surgiram, em que pessoas estiveram dezenas de anos em coma, completamente conscientes do que as rodeava. No entanto isso, para mim, é o mais atroz dos Infernos. Preferia morrer que ser apenas um cérebro vivo. Não poder mexer-me, não poder sequer falar... durante anos e anos e anos e anos. Não. Preferia morrer.
Ficaria extremamente chateada com os meus familiares, caso estes fossem coniventes com essa minha vida de zombie, e podes crer que voltaria do além para os assombrar em forma de umas valentes verdascadas durante o sono. :D
Falar disto é quase como falar de eutanásia.
bjinhos*
Tudo é relativo e nestas coisas só se pode falar caso a caso.
(quando as pessoas dizem alguma destas coisas, torna-se impossível continuar a discussão)
Agora a sério, é complicado discutir isto, porque para além da discussão de facto, que é a de saber se somos ou não a favor da cedência de orgãos, existe a outra discussão jurídica, se é que podemos chamá-la assim, de ser ou não ser determinado automaticamente se alguém é ou não dador. Haverá argumentos a favor de um lado, nomeadamente o do respeito religioso, das dúvidas científicas relativamente aos estados de coma, morte cerebral, etc, e do outro, da necessidade de salvar vidas e de melhorar a qualidade de vida das pessoas que necessitam esses orgãos, mas nenhuma decisão relativamente a este tema conseguirá sobrepor-se às conversas que todos temos de ter em família a prever estas situações e outras ainda mais macabras para se respeitar sempre a vontade do dono dos orgãos.
Ou seja, depende.
Beijinho
Li o teu texto. Muito bom o tema
escolhido e verdadeiro, nas opiniões dadas.
Quem sabe quando se está, realmente, morto? Ninguém pode garantir.
Morrer é deixar de respirar? E depois? Como será?
Mas isto que digo foge ao tema, eu
sei, mas os poetas são assim -
fogem e voltam sempre...
Escrevi "Sem Rumo" no Sapo. Ninguém sabe, mas me lembrei de ti.
Continuo interdita, mas de vez em quando fujo às normas.
O texto está um espetáculo de descernimento neste "mundo frio".
Beijos,
M. Luísa
Estou na área da saúde, área cirurgica, enfermeiro de reabilitação...cada caso é um caso, por isso se diz que não há doenças há doentes, em virtude do comportamento de cada um de nós perante um determinado estadio de doença...
Quando nos toca na pele, a forma de ver as coisas pode mudar na forma como as vemos para os outros...
Porque sou a favor da doação ou não,
porque sou a favor da eutanásia ou não,
tudo tem de ser bem analisado, caso a caso...
Brown Eyes, talvez compreende as tuas dúvidas, mais no que se refere ao facto de "sermos" dadores por obrigação e recordo-me ainda há dias ter sido tecnicamente e humanamente impossivel reconstruir determinado orgão vital de um jovem politraunmatizado a quem foram recuperados alguns orgãos para alguem que deles necessitava.
Regresso atrás e volto a dizer, sou da reabilitação e há tanta gente que pode recuperar mas desiste de o fazer de o fazer porque não tem sequer o apoio da família.
Tema pertinente, com comentários válidos que permitem se dúvida o debate de ideias....parabéns.
Bjo e bom fim de semana***
BEIJOKAS E BOM SÁBADO E UM DOMINGO RADIANTE
Bjocas
Patty
Tenho uma prenda para si no meu blog
É sempre agradável ver o que tão bem escreves, sempre assuntos com uma grande amplitude. Parabéns!
Venho também informar-te que tenho no meu blog um desafio que será uma boa surpresa para TI!
Passa um bom Domingo,
Carlos Alberto Borges
Quanto ao tema pretendia informar e que as pessoas depois tirassem conclusões do que aqui foi dito. Beijinhos e obrigada por tudo o que me tens dado, tu e a tua familia maravilhosa, que tu amas tanto.
Sabes que na medicina existe uma frase que é dita logo na 1ª aula da faculdade e que reza assim:
Na medicina não existe "sempre" nem "nunca".
A morte cerebral baseia-se na ausência de determinados parâmetros e na maior parte das vezes é inequívoca. Os exemplos que deste são extraordinários mas extremamente raros. É muito difícil que a pessoa recupere após o "diagnóstico" de morte cerebral, há que ter esperança, mas também bom senso, certo?
Quanto à lei ser a de que todos se assumem dadores, penso não ser tão má assim. Como poderia eu pedir consentimento a alguém que estivesse em coma? Podes dizer que a pessoa deveria ir à junta declarar-se dadora mas sabes o quão comodistas nós, portugueses, somos, não é? Não me parece que as pessoas se deslocassem à entidade responsável para isso.
Mas é a minha opinião ;)
E gostei mesmo muito da forma como abordaste este tema deveras complicado.
Bj
Quero agradecer-te o facto de teres dado a tua opinião até porque, segundo entendi, tu pertences à área da Medicina. Uma opinião que de certo será útil a quem ler este post.
Beijinhos