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A droga da fama




Ao longo da minha vida fui tirando conclusões que vou comparando com os acontecimentos do dia a dia. Muito cedo descobri que ser famoso, ser conhecido, ou até mesmo ter a infelicidade de dar nas vistas, mesmo sem nada fazer para e por isso, era prejudicial, despertava inveja e esta, por sua vez, tecia as mais incríveis teias.
Todos, algum dia, foram vítimas de um boato. Todos descobrimos a dificuldade em o desfazer, em detectar a sua origem mas, todos, sabemos qual o seu objectivo: ceifar alguém. Porque surge ? Alguém está com medo, medo de que alguém, que considera superior, se o visse igual ou inferior não se sentiria barricado, lhe possa, de alguma maneira, fazer sombra. Como a frontalidade é apanágio apenas de alguns e porque, a maior parte das vezes, tudo não passa de imaginação, não se podendo interpelar ninguém com base nela, não havendo indícios de nada apenas inveja parte-se, de imediato, para o boato. Assim, tendo como culpado ninguém, porque é sempre alguém que ouviu dizer a alguém e alguém já não se lembra a quem, consegue-se, facilmente, destruir alguém sem que ninguém assuma.
Agarrando o fio à meada. A fama, ao contrário do que se possa imaginar, jamais será significado de felicidade. Com ela perde-se o maior tesouro da nossa vida, a privacidade. Perdem-se os pequenos prazeres que a vida nos dá, simples, como ir, de manhã, comprar o pão com aquela T-shirt desbotada, mas tão cómoda, de chinelos de dedo, aquelas calças verde empalidecido que nos fazem recordar o primeiro dia de liceu.
A pouco e pouco a pressão vai rachando a nossa vida e quando nos apercebemos as fendas são desmedidas, já não conseguimos cimentá-las. A insatisfação, que o dinheiro não consegue nulificar, cresce desmesuradamente, incontrolavelmente. Sentimo-nos acurralados. Não podemos voltar atrás, a fama não permite, continuar significa violentarmo-nos constantemente. A opinião pública exige perfeição, perfeição que se torna cada vez mais complicado garantir, devido ao cansaço acumulado e à amplificação da exigência popular.
A procura de confortos não é por vezes feita no espaço mais apropriado nem da melhor forma. Impensadamente vamo-nos deixando vencer por uma solução narcótica, soporífica, ébria, que nos vai trazendo a ilusão de felicidade e camuflando a destruição cuidadosamente. Aparentemente conseguimos, assim, sermos depositários da felicidade, pelo menos enquanto estamos sobre o efeito dela, a droga, aquela que ouvimos sempre dizer que nos agarra mortalmente. Ouvimos dizer mas, sempre pensamos que somos diferentes, mais poderosos que os outros, que conseguimos controlar as nossas necessidades, o nosso corpo. Nunca, mas nunca, deixaremos que seja Ela a dirigir-nos. Ontem com apenas haxixe, ecstasy, drogas que produzem distorção da percepção, que nos provocam excitação, euforia, problemas com o tempo e o espaço, fome, falar
em demasia, palidez, taquicardia, olhos avermelhados, pupilas dilatadas e boca seca. Drogas que nos causam alucinações, diminuição dos reflexos, ansiedade intensa, pânico, paranóia levando a uma síndrome amotivacional, ao desânimo total. Começa a não ser suficiente, em vez de nos motivar, de nos dar aquela alegria postiça que procurávamos está, cada vez mais, a abrir-nos a fossa. Hoje, já sem qualquer controlo partimos para outras, mais fortes, que nos diminuem a actividade mental como a heroína, ópio e morfina. Estas por sua vez provocam-nos sonolência, sensação de leveza e prazer mas levam-nos, mais tarde ou mais cedo à morte ou por diminuição da respiração, batimentos do coração ou suicídio. Depois temos ainda aquelas que aumentam a actividade mental como as anfetaminas e a cocaína que causam inibição do sono, diminuição do cansaço e da fome, nos dão sensação de poder, excitação e euforia. Aumentam a pressão sanguínea, os batimentos do coração, provocam ansiedade e agressividade, paranóia, alucinações, derrames cerebrais, enfarto miocárdio, convulsões e coma, destruindo o tecido cerebral. Todas elas provocam dependência, todas elas, mais tarde ou mais cedo, nos levarão a ter atitudes menos próprias, impensáveis e destrutivas.
Não acredito na regeneração de um dependente de heroína ou cocaína já que o prolongamento do uso de drogas vai destruindo não só o tecido cerebral como a vontade, a personalidade, a vida e o amor a si próprio.
Assim sendo interrogo-me imensas vezes sobre os motivos que levam a optar por elas se, de antemão, sabemos o risco que corremos ao usa-las, se sabemos que elas não melhoram, em nada, os problemas, que os agravam e nos destróiem? Estarão os seus utilizadores à procura da morte, da vingança ou da destruição? Experiência? De algo que nos tira a liberdade? Alguém forte, com personalidade, maduro, decidido, optará pela droga como solução? Não será a droga um problema? Lutar não será uma opção mais saudável?
Agora vem a história. A história de um menino que era uma criança quando a fama o filou. Obrigaram-no a viver uma vida que não era a dele. Viveu rodeado de gente que não sentia amarem-no e ele apenas queria ser menino. Ensinaram-no a odiar-se e, ele não sabia lutar. A fama presenteou-o com o bisturi que o desfiguraria, a destruição veio cavalgando. Mesmo rodeado por um mundo fantástico não conseguiu vencer. A varinha não funcionava e o menino nunca se tornou homem.
Um dia tudo acabou, o menino descansa em paz. Onde? Não se sabe. Como não se sabe se foi assassinato ou suicídio. Sabe-se, apenas, que não era feliz e que o mundo chora por ele. Boatos? Houve muitos mas a verdade é que o menino era uma criança inocente, rodeado por lobos, lobos que lhe demoliram a vida e andam vestidos de cordeiros.
O menino partiu mas deixou uma história. Uma história que pode servir de exemplo a todos aqueles que a souberem ler.
Brown Eyes

Comentários

Anónimo disse…
Brown Eyes, adorei a tua reflexão. Tudo o que dizes está bem argumentado, bem visto, e é a pura da realidade. a acrescentar, se me permites, tenho apenas uma tentativa de resposta às tuas questões sobre a droga: acho que o principal e mais intrínseco motivo para enveredar por elas é o alívio da dor e da ansiedade, especialmente da dor...qnd alguem se encontra num sofrimento profundo perde a vontade de viver, ou simplesmente procura o alivio imediato dessa dor, sem pensar nas consequencias...

qnto ao que dizes do MJ e da fama...concordo contigo. um menino rodeado por lobos. um menino que nunca chegou a ser homem.

**
Ginger disse…
Concordo com tudo o que disseste sobre a fama e as drogas... quanto ao MJ... eu não sei. Não sei mesmo. Pensei que tinha uma opinião formada sobre este assunto, mas a morte dele alterou a minha opinião sobre o mesmo.
Talvez tenha sido um pouco de tristeza, empatia... não sei.
Olho agora para tudo isto, e apenas consigo sentir uma imensa pena dele.


kiss*
Brown Eyes disse…
HannaH obrigada pelo teu comentário e pelas respostas às minhas questões. Tens razão o sofrimento profundo leva-nos a procurar apenas o alivio, uma solução rápida, e a não ver as consequências da mesma. Daí muitos procurarem até o suicídio. Às vezes vemos tudo pelos nossos olhos e todos temos maneiras diferentes de raciocinar. São estas falhas que podemos modificar com as reflexões e com a ajuda de quem nos lê. Espero que com este post possa de alguma maneira ajudar alguém a procurar outra solução, a ver na droga mais um inimigo, mais um problema e não uma ajuda. O tempo, as reflexões, as analises que possamos fazer a outras vidas, levar-nos-á decerto a menorizar os nossos problemas. A cabeça quente agiganta tudo.
Um beijo e as melhoras.
Brown Eyes disse…
Ginger tudo resumiste o meu sentimento pelo MJ: Pena. A morte dele serviu para eu olhar melhor para ele e para a vida que levou, para as mensagens veladas que ele nos foi enviando. Analisando isso tudo eu até chego a duvidar que ele tenha alguma vez tido relações sexuais. Parece-me tão criança, tão puro, basta lembrar Neverland, que penso que ele foi sempre um menino indefeso. Que adulto se faria rodear por toda aquela fantasia? O que me preocupa é o facto de nós vivermos com MJs mesmo ao nosso lado, sem fama, mas amargurados, insatisfeitos, com problemas e não vemos. Quem sabe podíamos, com uma pequena ajuda, às vezes até uma palavrinha é suficiente, melhorarmos a vida dessa gente. A lufa lufa do dia a dia só nos faz lembrar do nosso umbigo. Bem tu, como já te disse muitas vezes, não me canso de repetir, vais contribuindo, aqui, com os teus posts maravilhosos para levantar o astral do pessoal e não só, ensinas a brincar com os probleminhas do sai a dia. Mais uma vez obrigada pela tua participação positiva.
Beijos
Isaura Pereira disse…
Olá ! Vim cá parar por outros cantinhos por onde passei .. e amei ! Esta reflexão sem dúvida que nos pode fazer pensar em muitas pessoas que tenho bem aqui do nosso lado ... vou ter muito com que ler nos próximos tempos ;)

Jocas
Brown Eyes disse…
Isaura obrigada pela visita e pelo teu comentário tão agradável. A droga é um dos temas que me preocupam. O ser humano vive aprendendo com a sua experiência mas, também, aprende com a experiência dos outros. Mal daquele que nem aprende com a dele nem com a de outros. Não compreendo como alguém consegue experimentar a droga depois de já todos termos ouvido e visto a que leva a mesma. Como quer alguém ser um farrapo? E ninguém pense que conseguirá aquilo que os outros não conseguiram: livrar-se dela quando quiser. Ninguém pode achar que não se inserirá num grupo ou numa sociedade porque não experimentou, não usa estupefacientes. Enfim este é um tema preocupante. Todo o ser humano tem valor, demasiado para se deixar destruir. Um beijo e volta sempre. Serás bem-vinda.
Paulo disse…
Em relação a pessoas como o MJ e outros que alcançaram fama mundial e que não souberam lidar bem com ela, acabando da pior forma, não consigo deixar de sentir pena. Muita pena.
É triste.
Afinal para quê tanta maluqueira se tudo acaba, normalmente, mal?
Quando a cabeça não tem juízo...

PS: já publiquei as fotos ;)
Brown Eyes disse…
Resumiste a chave do problema: Quando a cabeça não tem juízo...E o pior de tudo é que essas cabeças, a maior parte das vezes, estão convencidas que têm mais juízo que ninguém.
Já passei novamente no teu blog. Ainda não as tinhas publicado? E eu a pensar que era este fulano que me andava a enganar. Ultimamente tem-me pregado umas rasteiras....É a falta de férias:). Obrigada. Beijinhos.
Anónimo disse…
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