Finalmente chegaram as mudanças! Mudanças que só o tempo nos dirá como classifica-las mas, há coisas que nunca mudam, diz até o ditado que “quem torto nasce tarde ou nunca se endireita”.
Torto, quem poderá ter nascido torto? Os “Chico Espertos”. Eles levaram este povo a imaginar-se num paraíso qualquer à beira-mar plantado. Paraíso havia mas não era para o povo, era para uma minoria que gastava mais que a maioria e culpabilizava os mais indefesos, os funcionários públicos.
Quem não odeia os funcionários públicos? Quem não os acusa desta crise? Quem não os julga pessoas super protegidas pelo estado? Quem não os imagina repletos de benefícios? Quem?
Todos aqueles que “nunca” foram funcionários públicos.
Para a comunicação social até os fins-de-semana viram férias quando se fala de funcionários públicos e dias de férias são, convictamente, pontes. Pontes? Que é uma ponte?
Não interessa saber como são feitas as contas de quanto o país perde numa ponte mas, era bom que as aprendessem a fazer. Nenhuma instituição fecha numa ponte, continua a funcionar, não deixa de se produzir, não se deixa de vender serviços e, por sinal, tem menos gastos. Difícil? Uma ponte não é uma tolerância. Quanto perde uma instituição quando os funcionários estão de férias? Fecha?
Qualquer trabalhador, de uma firma privada, desconta 11% para a Segurança Social, o resto são descontos feitos pelo patrão, tem, assim, direito à reforma e a benefícios de saúde e afins nos quais se inclui o abono de família. O funcionário público desconta 11% para a Caixa Geral de Aposentações que só lhe dá direito à reforma e desconta para a saúde, a chamada ADSE, mais 1,5% para ter benefícios na saúde, abono de família e afins. Para o IRS há uma tabela geral, como devem saber. Vamos então imaginar um trabalhador da privada que cumpre com os seus deveres fiscais e declara os seus rendimentos na totalidade, tantos há que não o fazem, procedimento que um F.P. não pode ter, que ganha 923,42 euros, solteiro, e um funcionário público com o mesmo vencimento, teremos:
Privada:
Segurança Social: 101,57 euros
IRS: 73,00 euros
Total descontos: 174,57 euros
Receberá: 748.85 euros
Funcionário Público:
ADSE: 13,85 euros
CGA: 101,58 euros
IRS: 73.00 euros
Total descontos: 188,43 euros
Receberá: 734,99 euros
Não vou aqui falar nas obrigações que tem um patrão para com um funcionário, que os particulares cumprem e o estado foge. Exemplo disso são as formações anuais obrigatórias e a Segurança e higiene no trabalho que obriga a consulta médica anual, com exames de rotina, pagos pelo patrão, procedimentos inexistentes na função pública. O funcionário público que queira adquirir mais formação paga-a e o mesmo acontece na saúde. Quer fazer um check-up? Paga-o e muitas vezes nem o direito de ir a uma consulta lhe é dado. No estado nem sempre se cumpre a lei.
Maravilhas? Onde elas estão?
Alguma vez na privada se louva um chefe incompetente, que não incentiva os funcionários, que os desmoraliza? Não. Querem é que se produza, tudo fazem para incentivar a produção. Quem produz? O trabalhador. Ele é que tem que ser incentivado. Na função pública louva-se o chefe que deixa os funcionários desmoralizados, sem condições de trabalho, sem material. A eles pouco interessa a produção, interessa o que se consegue poupar, nem que para isso a imagem da instituição seja posta em risco. Esta é a verdade e quem, como eu, já trabalhou na privada e teve o azar de concorrer e ficar aprovada num concurso para a função pública conhece esta realidade. Pagam-se prémios anuais aos trabalhadores no fim do ano quando há lucros e na função pública? Se há prémios é para as chefias e apenas para esses. Os funcionários públicos tinham apenas um benefício, trabalho certo, privilégio perdido. Se há que fazer cortes em quem se fazem? Funcionários públicos.
Quanto aumentaram os vencimentos dos funcionários públicos de há vinte anos para cá? Diminuíram. Diminuíram a olhos vistos. Como é aumentado um vencimento de um funcionário público? Com concurso, faz-se concurso para a categoria a seguir. Como aumenta o vencimento de um trabalhador privado? Pela demonstração das suas capacidades de trabalho. Há desigualdade e esta desigualdade não me parece que seja a favor dos funcionários públicos, parece?
Sinceramente, estou FARTA, FARTA de sentir a ignorância de um povo sobre a pele dos funcionários do estado. Nós não somos políticos, sabiam? Não viemos para a função pública porque andámos a colar cartazes, muito menos temos direito a subsídios de reinserção ou outro qualquer. Virem o vosso ódio para os políticos e lembrem-se que muitos há, como eu, que estão lá por mérito, não meteram cunha nem compraram mobílias de sala de jantar ou de visitas para oferecerem ao júri do concurso.
Peçam contas a quem vos endividou, a quem roubou os bens do vosso país, responsabilizem os políticos e deixem-nos em paz. A nós já nos chega vermos o nosso vencimento diminuir de dia para dia. Nós não recebemos subsídios nenhuns, não vamos comer a cantinas da cruz vermelha nem tão pouco andamos a polir esquinas. Não teremos nós direito ao respeito? Afinal produzimos e pagamos impostos, coisa de que muitos neste país não se podem gabar.
Querem odiar? Comecem a odiar o Mário Soares e vão por aí adiante, esse mesmo que agora dá palpites sobre tudo e todos mas parece que, enquanto governante, pouco sabia e nada acertava. Lembrem-se que a ele devemos o facto de estarmos a ser mandados por estranhos. Estranhos que querem aumentar tudo, menos o vencimento, que querem à força anular-nos, que se julgam donos e senhores deste dito rectângulo.
Tantos iluminados neste país, que se julgam capazes de resolver tudo, capazes de julgar tudo e todos e não conseguem perceber que os funcionários públicos são o bode expiatório dos políticos, os escravos da má governação?
Ao contrário do que foi dito na comunicação social, não foram só os vencimentos acima de 1 500 euros que diminuíram. Que acontece a um vencimento quando os descontos aumentam? Diminui. Não diminui apenas quando o vencimento reduz, diminui, também, quando os descontos aumentam. não será? Esta é mais uma que circula.
Não é por acaso que os funcionários públicos estão a reformar-se, perdendo dinheiro, aos magotes ou é?
Perguntam vocês:
Se é assim tão mau porque não saem?
Pergunto eu:
Se a Função Publica é assim tão boa porque não concorrem e entram?
Há um mar de rosas neste país, há, mas nele não navegam funcionários públicos, navegam “Chico Espertos”, que derrubam quem se aproximar e a arma é, imensas vezes, o boato.
Para vincar o que aqui foi escrito visitem este blog, leiam e decidam a quem devem atirar pedras e a quem devem lançar uma jangada.
Nunca se esqueçam que é a nossa vida que devemos viver, que a inveja é destrutiva, que a solidariedade é a arma dos capazes e que destruir nada constrói.
(Aqui não incluo nem o pessoal do ministério da justiça, nem o das finanças. Esses são mundos à parte, cuja realidade pouco conhecimentos tenho.)
Brown Eyes
Comentários
Beijinhos
Beijinhos
Sei o que sentes, a tua raiva a tua frustração é exactamente igual à do meu marido e consequentemente à minha.
Agora está em casa, pois não aguentou mais ser alvo de desrespeito dos dois lados.
Dos colegas que pensam que estão acima e nada sabem como bem dizes, e dos que sem saberem do que falam, deitam literalmente abaixo os funcionários públicos.
Todos os meses vemos encolher o ordenado e as poucas regalias a que temos direito, porque para elas descontamos, são cada vez menores.
O pior mesmo é vencerem-nos pelo cansaço!
Tanta coisa haveria mais a acrescentar ao seu excelente post, mas neste momento só te dou um beijinho amigo e um grande abraço solidário.
Beijinhos
Fê
Beijinhos
comecei a trabalhar com 9 anos(sim,
não estou a mentir) e trabalhei até
aos 51 na altura em que de um momento
para o outro me puseram um papel na
mão e disseram acabou, a mim e a
mais duas colegas.Os outros/as não
tiveram uma palavra de solidariedade
connosco(pensavam que éramos só nós...)depois lentamente eles também foram mandados embora...
Estive no desemprego até atingir
o fim do tempo e depois aos 55
anos, reformei-me com perca de
10 anos.Uma mísera reforma, para
quem trabalhou dos 9 anos 51 anos,
sem qualquer interrupção.
Sinto-me, também revoltada com o
que aconteceu no meu país após o
25 de Abril de 1974, e respeito os
F.P. e não tenho inveja deles, nunca tive.Pertenci a Sindicato,
fui autarca, estive em partidos
políticos, conheço "algumas coisas
por dentro" e acreditem que é bem
pior do que aquilo que as pessoas
pensam. De facto este 25/Abril
foi bom para algumas pessoas, que
conseguiram enriquecer de uma forma
escandalosa...e era tão fácil saber
como conseguiram ter o que têm, bastava multiplicar o ganho/mêsx
anos de serviço, mas isso nunca
será feito. Eu compreendo(penso)
o que a amiga sente. E o futuro será cada vez mais deprimente e
mais revolta causará.
Beijinho
Irene
Beijinhos e obrigada
Bem vinda e obrigada pelo assalto :))) Gostei muito!!!
Beijinho grande
O teu silêncio por aqui já estava a pesar!
Nunca considerei que a crise fosse motivada pelos funcionários públicos, que tu abrevias com FP, mas abreviando também num outro sentido, eu sei os FP, que nos tramaram e tramam, o bando de charlatões… a escumalha que só faz asneira e muito se orienta!
Considero que a tua exposição está de facto excelente, para quem não esteja dentro dessa realidade ou tenha sido envenenado pelos fazedores de imagens fictícias!
Eu sempre trabalhei no privado e poderia dizer noutra perspectiva os «podres» que vivi, que foram muitos e com um final tão absurdo que me levou ao psiquiatra!
É impressionante ouvir as experiências das pessoas que trabalham…depois do imobilismo com que se vivia antes do 25 de Abril…onde pelos menos parece que existiam mais valores…e que depois se tornou num desenfreado querer trepar de qualquer maneira…até à situação que hoje vivemos!
Sei que a indignação e raiva que sentes terá grandes consequências em ti…mas aprecio esse teu grito…e fico com vontade de gritar!...
Beijinhos
Manuela
Beijinhos
Beijinhos
Como eu estou em sintonia, total, absoluta e completamente com o texto texto de raiva e de revolta genuína? Como gostaria de ter sido eu a escrever o texto que nos apresentaste? Sim. Porque s´´o quem passa pelas coisas as sente com profundidade e sinceridade, sem panunhos quentes. Disseste que não te pronunciavas sobre os FP das finanças e da justiça por não conheceres bem. É verdade que estes funcionários têm mais umas pequenas regalias do que os outros mas não queiras saber o que acontece aos que, por profissionalismo, têm de trabalhar. Posso-te garantir que não é pera doce. Há uma classe de funcionários privilegiada, são os da Assembleia da República que ganham mais 80% acima do vencimento base. Mas estes compreende-se: têm de calar as malfeitorias dos políticos que servem.
Um beijinho grande e parabéns pelo excelente texto.
Caldeira
Beijinho e bom fim de semana...
Clamores conhecidos
por mim sentidos
Ouvem-se palavras (ainda tímidas)de saudade
a tempos de um passado
em que fui soldado
em que fui calado
em que fui escravizado
Existem escravos agora?
Digam-me onde colocaram o vosso voto
dir-vos-ei (ou não)se de tal me importo...
(conheço bem a situação dos FP)
Beijinhos
Há muito que ando com vontade de falar das facilidades que certas pessoas têm recebido, pessoas que nunca vi fazer nada mas que têm tudo de mão beijada. Haja tempo e virá um post sobre o assunto.
Beijinhos e obrigada.
É um texto pesado, extenuante.
São tempo de muitos sacrifícios.Tempos conturbados estes que vivemos. Por tudo o que todos sabemos, maus políticos, más políticas, ninguém está impune. Nós pagamos, pois pagamos, nem sabemos ainda o que mais virá. Muito serenamente te digo Brown Eyes, nem tudo é mau na função pública, nem tudo são rosas na privada.
Para além de tudo o que escreveste e que é o que sentes, respeito como é obvio.
Bjnhs
Obrigada.
Beijinhos
Sabemos que a tendência geral das pessoas é generalizar e deitar abaixo.
O meu pai foi toda a vida funcionário público e nós vivemos remediadamente do seu suor.
Tenho familiares no Ensino e no Ministério da Justiça.
Em ambos os casos, eles tinham bons ordenados, progressão nas carreiras e férias longas, muito mais longas do que os outros trabalhadores, mas isso era dantes... já foi! Ardeu!
Dizem o mesmo dos bancários. O meu marido trabalhou desde os 14 anos sempre para o mesmo banco. Com 35 anos de casa foi-lhe proposto ficar ou sair...Ele saiu, estava farto de trabalhar horas sem fim e sem ser pago.
Se tem agora 58 anos e já está reformado há quase 10 anos, que têm as pessoas a ver com isso? Foi sua opção e não pensem que trouxe uma reforma anormal!
Nada disso.
Desde que está reformado tem sido penalizado com mais e mais impostos e a pensão naturalmente a baixar, já lá foram 300€ e com que direito lhe cortam assim na reforma???
A situação é mesmo revoltante, mas as pessoas tendem a pedir igualdade por baixo ... se a maioria tem reformas miseráveis, então que todos tenhamos a mesmo porcaria...
Não é assim que se consegue melhorar. Devemos exigir que nivelem por cima, não por baixo.
" para pior já basta assim, para melhor está bem..."
Beijinhos
Beijinhos Ná. Obrigada
"A realidade é que os impostos pagamos nós e a boa vida é feita pelos outros. Quem são os outros? Todos os conhecem."
CORRECTO!!! Beijinho grande
Ao fim e ao cabo é a velha história do "oito ou oitenta".
Não retiro o que disse, mas acrescento que nos últimos anos tem sido o funcionalismo público quem tem pago as favas todas.
pinguim beijinho e obrigada, obrigada por dizeres sempre o que pensas.
Não se pode generalizar o problema das coisas nos funcionários públicos, como também não se pode desculpabilizar as ingerências que se praticam no sector público. É claro que tanto mais mal existe quanto mais desperdício existe desde a redundância de funções, ao excesso de funcionários, ao controlo da produtividade, ao salário desses funcionários de acordo com o trabalho que (não) fazem. Contudo, a grande diferença, é que no privado, as ingerências tem consequências mais práticas e visíveis enquanto que no público as ingerências são perpetuadas e mantidas a custo do público.
No entanto, não critico nem posso criticar nenhum funcionário público apenas pelo facto de o ser... porque a ingerência e o mau profissionalismo são males que extravasam o público e o privado. Critique-se e resolva-se o que está mal e mantenha-se o que está bem. Parece mais fácil dizer do que fazer, mas a nível de opinião ninguém pode ser proibido de ter uma opinião simples e até utópica. Essa é a minha opinião.
Estás no direito de a ter e maus trabalhadores há-os até no privado apesar de muitos deles não terem razão para o serem. Quem conhece os dois lados sabe que no privado o trabalhador é recompensado quer monetariamente quer com reconhecimento do seu mérito o que não acontece no público. Interessa ao patrão reconhecer pois sabe que assim obterá maior produção. No público interessa reconhecer o mérito do Boy que a ele sim interessa dar um louvor, ou algo que se pareça, para que ele possa ganhar mais. Blá, Blá, Blá há tanto para saber sobre o público que como eu disse só vivendo essa realidade se pode dar valor. Há coisas que por mais que se expliquem nunca se percebem porque não se vivem. No nosso caso vive-mo-la e pagamos para a viver.
Beijinhos