‘Ainda mergulhado no torpor matinal, de persianas corridas e pensamentos trancados, ouço ao fundo do corredor o som dos meus pesadelos. Os passos afiados, como uma estocada de um qualquer toureiro espanhol, libertavam no ar toda a fealdade gelada da sua alma e tinham em mim efeitos diversos, bastante distantes da placidez do torpor em que me encontrava…’ (in ‘O torso’, de Ricardo Mendes da Fonseca)
"Assim começa a história de um jovem mutilado que se vê privado da sexualidade, vivendo numa casa caiada de conservadorismo, que encerra uma verdade bem mais subversiva. Encontra finalmente o amor num dia chuvoso de funeral. ‘O torso’ é a 1.ª auto-publicação de Ricardo Mendes da Fonseca, recorrendo aos serviços editoriais disponíveis no SitiodoLivro.pt, uma história originada pela frustração laboral que o autor acumulou ao longo dos anos. Através desta obra, o autor quis e conseguiu exprimir as suas emoções e realidades vividas no seu passado." (in blog do Sítio do Livro).
Pensa, quem me vier visitar durante esta publicação, que fugi ao normal, que houve uma entrada de um novo tema, não. Resolvi falar nesta publicação, que adquiri no Sítio do Livro, para que saibam que numa geração que dizem "rasca" e se sente "à rasca", para conseguir sobreviver pelos próprios meios há, ainda, quem queira ser excepção, não se deixando arrastar para o precipício que os "iluminados" deste rectângulo escavaram.
Neste país, parte-se do pressuposto que a cultura se adquire na escola, que tem que se tirar uma licenciatura, um mestrado (muito em voga) para se ser alguém, para se ter conhecimento, para se ser feliz, amado e idolatrado, para se fazer algo em grande. Esta nunca foi a minha opinião e os maus exemplos apresentam-se, diariamente, aos nossos olhos. Nós, simples mortais, conseguimos encontrar, saber e conhecer o que está a apodrecer no nosso país, conseguiríamos, facilmente, agarra-los e coloca-los no lixo, sem lhe darmos hipóteses para contagiar o que, ainda, há de são. Os economistas e políticos, esses mesmos que aparecem na TV, a enumerarem soluções para a crise, que não passam de facadas para os mais pobres e desprotegidos, não conseguem enxergar as mudanças necessárias para levar este barco a bom porto. As soluções que eles encontram acabam sempre por cair sobre os mesmos, por serem temporárias, por não resolverem nada, por defenderem apenas uma classe social, a dos inúteis.
Este Jovem, o R.I.P., cujos blogues visito desde que conheci o mundo da blogsfera, surpreendeu-me e surpreendeu todos os que tiveram oportunidade de ler o Torso. Conseguiu quebrar regras com esta excelente obra., exprimir-se, dar voz a uma camada jovem que respira cultura. Será ele uma excepção?
Sempre comparei este Jovem a Saramago, tive já oportunidade de lho dizer, alguém que tem uma visão muito própria do mundo que o rodeia, autodidacta, criativo, que gera polémica, vigilante que encontrou na palavra a arma para lutar contra a injustiça, ignorância e poder. Alguém que procura a verdade através da análise, da observação da experiência vivida, modificando o conhecimento manipulado à nascença. Era assim que eu via Saramago mas, também, é assim que vejo Ricardo Fonseca.
Comprem, leiam e analisem. Vale a pena.
Publicado, também, no blog Sempre Jovens
Brown Eyes
Continuo ausente, responderei aos vossos comentários logo que me seja possível. Não podia, no entanto, deixar de me unir a um grupo que apoio, a geração à rasca, deixando aqui um excelente exemplo.
Blogues do autor: Prá lém da linha vermelha e quest for the sublime...lyric
Continuo ausente, responderei aos vossos comentários logo que me seja possível. Não podia, no entanto, deixar de me unir a um grupo que apoio, a geração à rasca, deixando aqui um excelente exemplo.
Blogues do autor: Prá lém da linha vermelha e quest for the sublime...lyric
Comentários
Primeira, ser por ti analisado e sustentado como alguém que te lembra Saramago.
Segundo, porque reconheço muito mais cultura, educação e valor a quem empiricamente aprende e entende a vida em todos os quadrantes.
Irei visitá-lo e espero vê-lo com os teus belos Brown Eyes.
Beijo
Ná
Os auto-didatas são casos especiais, sempre existiram e espero que continuem a florescer. Conheço alguns auto-didatas, hoje já com idades avançadas que dizem "daria dias da minha vida para poder ter ido mais longe no meu grau académico".
Sobre as gerações;
Ainda bem que existem casos bem sucedidos. Mal seria de nós e deles... . mal seria desta geração e de toda uma geração que se encontra dilacerada, e como se constata, cada vez mais à "rasca".
Que o grito de amanhã não seja em vão. Que seja escutado pelos que ainda tenham alguma consciência.
Obrigada pela partilha.
Bjs
fazes falta à blogosfera; este texto é disso prova.
E deste-me um novo blog a conhecer: vou começar a segui-lo.
Os que são por gosto...desde que se mantenham activos é uma opção...de qualquer forma num mercado de trabalho tão competitivo e qualificado...é um risco...enfim...
É preciso apostar mais nos jovens, naquilo que têm para oferecer, nas suas qualificações !!!
Obrigada por nos trazeres um exemplo de alguém que é diferente
Beijinhos e bom fim de semana
Um abraço
Boa semana
Beijos
Ontem fui à manifestação da geração à rasca e presenciei nos milhares de jovens presentes, muita determinação e conhecimento.
Falta-lhe talvez capacidade de luta e empreendedorismo, culpa nossa por lhes facilitarmos a vida(esta é a minha visão como mãe de dois jovens adultos).
Saber que há jovens exemplares e talentosos como o Ricardo, reacende-me a esperança nos jovens e futuro.
Obrigada por esta partilha, vou adquirir o livro sem dúvida e irei também visitar os blogues que recomendas.
Beijinhos e volta depressa.
Gostei do que li e concordo com a Brown disse no seu post.
jocas
Evidentemente que não é preciso ter um canudo, para se ter substrato e o exemplo que dás é de facto para mim de um grande mérito, porque no mesmo se vê uma luta para alterar preconceitos. Mas na realidade nem sei são preconceitos, já que presentemente, tirar um curso, fazer um mestrado…ie continuar a estudar, a estudar…dadas as dificuldades de saída profissional, acaba por ser uma bengala psicológica, para quem vê o nada à sua frente e que agrada tb aos pais, já que isso representa ocupação e nada se perde com isso.
Minha querida Mary quanto à geração à rasca…eu diria que muitas gerações estão à rasca, com cursos ou sem cursos, desde os que precisam após estudos obrigatórios de ir trabalhar às pessoas idosas que vivem com reformas miseráveis. E há soluções para sair do buraco? Ou se encontra um caminho comum, ou vamos todos juntos para o abismo da pobreza. Onde já mergulharam dois milhões de portugueses.
Com certeza que irei adquirir esse livro que recomendas, que me suscitou de facto um grande interesse e mais uma vez louvo a oportunidade do teu post.
Beijinhos,
Manuela
Beijinhos
O tal grito de que falavas foi altíssimo mas duvido que quem têm o poder o tenha ouvido. Há aqui muitos interesses em causa e nós estamos na cauda da Europa, somos os escravos dela e o nosso futuro é a anulação completa. Entrar na CEE foi o que ocasionou. A globalização permitiu a anulação de alguns países e povos, anulação completa. A máxima agora é trabalhar nem que seja por uns cêntimos ou então vamos para o desemprego. Tudo que se ganhou em décadas perdeu-se em dias. Perderemos todos os direitos até o direito à saúde, já está a acontecer. Vê o caso dos reformados que já nem para comerem têm quanto mais para comprarem medicamentos ou irem ao médico.
Beijinhos
Beijinhos
Beijinhos e obrigada.
Beijinhos e obrigada
Beijinhos
Obrigada. Tudo o que fizermos pelos jovens estaremos a fazer pelo futuro deste país. Há muitos boys neste país, pouco restará para os jovens, por mais mérito que eles tenham. Beijinhos
Satisfeito sei que nunca estarás, nem com esta nem com nenhuma obra. Quando criamos alguma coisa queremos fazê-lo o melhor possível e se tocássemos 100 vezes nela 100 vezes a alterávamos. Procuramos a perfeição e conseguimos sempre superarmo-nos e como sabemos disso estamos sempre insatisfeitos. Sorte que o leitor é menos exigente que nós. A máxima "Só sei que nada sei" de Sócrates (nem todos os Sócrates a conhecem:)) só é dita por um sábio, só ele sabe que nunca sabe tudo, que por mais que saiba muito mais há para saber. Impossível abarca todo o conhecimento e por isso todas as nossas obras poderão ser sempre alteradas, poderão ser sempre aperfeiçoadas estando sempre imperfeitas.
Este teu comentário só vem reforçar o teu valor. Hoje as pessoas correm em busca da fama como se ela fosse tudo. Ainda bem que tu sabes o quanto ela vale e sabes que um sonho realizado vale só por si, não pelo que possa trazer.
Beijinhos
muita coisa, mas não o vou fazer,
apenas dizer que subscrevo total-
mente este seu post. Vou verificar
o blogue que refere e comprar o livro. Há pessoas que são empreendedoras por elas próprias
e que lutam para atingir alguns dos
seus objetivos, contra ventos e marés, parece ser o caso.
Este nosso Portugal "endoidou"
em muitas situações e os portugueses também...(sei que não
vão gostar...)mas muita coisa se
vai desmoronar...e muita vaidade
"ouca"...vou parar(senão ainda me
"batem"...)
Beijinhos amiga.
Beijinhos
É um dos motivos porque eu quero a todo o custo sair deste país. Não digo que as coisas sejam melhores lá fora, mas quero conhecer o desconhecido, arriscar. Acho que é isso que falta a muita gente.
Beijo enorme*
Irene
Obrigada pelos comentários