As notícias e os acontecimentos mundiais exerceram, sempre, grande influência sobre mim, capazes de provocar alterações no meu dia a dia e na minha maneira de agir. Hoje não foi excepção e, mais uma vez, o que tinha agendado vai ter que aguardar por vez.
Interferiram porquê? Porque, como é impossível saber agir correctamente em todas as circunstâncias, saber analisar perfeitamente todos os factos com a nossa experiência, há tanta coisa porque ainda não passámos e nunca passaremos, vou acumulando informação de factos passados com outras pessoas, analisando-os e tirando as minhas conclusões. Sei, também, que a teoria, na hora da verdade, falha mas, menos falhará quanto maior for a informação adquirida.
Já ando há algum tempo para abordar o tema pais e filhos e as suas relações na actualidade. O tempo foi passando e o assunto foi ficando na gaveta. Esta ligação nunca foi fácil, talvez devido à diferença de mentalidade provocada pela diferença de idades mas, hoje, ela é muito mais problemática. Porquê? Falta o essencial, o respeito pelos progenitores, pela sua vida, pela sua opinião e, mais alargadamente, pelos mais velhos. Não há estima e não há submissão. Parece que nada se deve aos pais e são estes, por sua vez, que estão sempre em divida e têm, custe o que custar, todas as obrigações.
Nunca pensei assim. Merecessem ou não eu devia obediência, respeito, amor, carinho e companheirismo aos meus pais. Nunca me lembrei de lhes responder que não tinha pedido para nascer quando me negavam alguma coisa.
Realmente não pedi, como nenhum de nós pediu, como ninguém que utiliza esta frase irá perguntar ao filho se quer ou não vir ao mundo, se quer ou não nascer. Este facto, de a criança ter nascido sem consentimento prévio, obrigar-me-á, como mãe, a ceder a todas as chantagens feitas pelo meu filho ou filhos? Obrigar-me-á a perder a minha identidade? A submeter-me à sua vontade e capricho? Não. Não posso deixar de ser mãe passando por magia a ser “pau mandado” pelo meu descendente ou descendentes. Não posso perder a minha identidade. Não posso, também, matar-me a trabalhar para lhes proporcionar uma vida de modelo de passarela, ensinando-os a viver de aparências, dando-lhes a entender que a vida é fácil, oferecendo-lhes o luxo que não podem ter como filhos de classe média. Não, afinal tudo isto é contra a minha maneira de pensar, de ser, estaria a violar-me e, além disso, compete-me formar, informar e educar.
Dizer não é o caminho mais difícil, provoca animosidade, mas ensina, ensina a lutar pelos desejos e sonhos, a ganhar o que queremos. Ganhar, esta palavra, só por si, é um troféu, um troféu que os nossos adolescentes não conhecem. Para eles ganhar é conseguir do pai ou da mãe, não conseguir com o seu esforço. Tudo lhes cai do céu, até as notas na escola são conseguidas à custa do explicador.
Esta maneira de educar e formar é incompreensível. Não entendo que filhos querem estes pais. Querem filhos auto-suficientes ou querem filhos dependentes? É verdade que a concorrência é maior hoje que foi ontem, mais uma razão para os tornar autónomos, ensiná-los a, sozinhos, conseguirem competir honestamente.
Nunca me imaginei a pedir opinião a um filho sobre uma atitude a tomar, isso seria demonstrar-lhe insegurança. Insegurança que não me é permitido ter e que poderia ser, por ele, mal aproveitada. Assim como, nunca ameacei com castigo e, minutos depois, esqueci a ameaça apesar de não ter sido cumprida a minha vontade. Nunca me imaginei, também, a modificar qualquer atitude, esconder uma decisão ou anular uma vontade porque o meu filho é contra. Se eles não nos dão conta dos seus actos, não temos nada com isso, porque eles terão alguma coisa com a nossa vida. Se eles querem liberdade de acção porque nos querem encarcerar a nós? Estranho não é? Parece que, de um momento para o outro, passámos de pais a bebés. Há muitos pais que permitem que os filhos se intrometam na vida deles e para evitar isto, delicadamente, passam a mentir-lhes, a esconder factos. Porquê? Penso que a idade, a entrada nos enta, cria neles o medo de uma velhice solitária e, para evitar isso, com medo de serem abandonados passam a aceitar tudo ou será que se perde a autonomia e a confiança nas nossas capacidades, a partir de uma certa idade? Estou a falar de pessoas mentalmente sãs, sem problemas mentais.
Aceitar violência, faltas de respeito, insultos, desobediência de um filho não é normal para um progenitor como não é normal, quando ela existe, não criar preocupação. Não é. Nós recebemos, ao longo da nossa vida tantos NÃO, vamos reagir a cada um deles violentamente? Se a sociedade penaliza quem é violento porque um pai não penaliza um filho que o foi para ele. Porque é filho? Precisamente por o ser é que não lho pode permitir.
Relacionei sempre violência à morte e um filho hoje violento pode muito bem ser amanhã um assassino. Pode e como pode há que evitar esse futuro, a todo o custo, evitar que o nosso filho venha na primeira página de um jornal, por um motivo tão macabro. É inumano um pai tornar-se vítima de um filho.
Pois é mas, acontece. Acontece e o motivo é sempre o mesmo: dinheiro.
Esta mãe morta, em Coimbra, por um filho adoptivo (que alegou tê-la morto porque ela era chata), a quem deu tudo (ele teve um descapotável quando entrou para a universidade), demasiado, tanto que ele perdeu o rumo, nada pode fazer, está morta mas, nós podemos. Podemos evitar que se formem monstros em vez de seres humanos.
Não percam, jamais, o vosso papel e não esqueçam que amar é aperfeiçoar não danificar nem neglicenciar.
Brown Eyes
Comentários
Sim nunca fui mãe é um facto, mas tenho consciência do que implica sê-lo. Não basta largá-los ao mundo, basta sim dar-lhes bons exemplos e acima de tudo não ter medo de ser o "mau da fita". Nunca ninguém morreu por ouvir um Não!
beijoca
Beijinhos
O caso que aponta é paradigmático de quem nunca foi capaz de dizer NÃO. Se dúvidas tivéssemos bastava ir à Psicologia para vermos a importância da palavra e da atitude de um NÃO.
Obrigado pela reflexão. Parabéns pela frontalidade.
Bejinhos
Caldeira
EU JÁ PRESENCIEI CENAS DE MÁ EDUCAÇÃO DE FILHOS PARA PAIS E VICE VERSA...E DIGO-TE MAIS, SE HOJE A FAMÍLIA ESTÁ EM CRISE,DEVE-SE SOBRETUDO AOS PROGENITORES...
É MAIS FÁCIL CULPAR AS CRIANÇAS...
ELES SÃO AGRESSIVOS,ELES SÃO MARGINAIS,ELES QUEREM TER UMA VIDA FACILITADA,ELES QUEREM TUDO...MAS ESQUECEMOS QUE PROVAVELMENTE SÃO OS PAIS QUE OS CONDUZEM POR ESSA VIA...EU TENHO VISTO MUITA COISA,OUVIDO MUITA COISA...E CADA VEZ TENHO MAIS ESSA NOÇÃO...DE QUE OS VERDADEIROS CULPADOS SÃO REALMENTE OS PAIS...NÃO ESTOU A GENERALIZAR MAS SEI DE MUITOS AMBIENTES DEGRADANTES...ONDE SE PASSAM ABERRAÇÕES QUE NINGUÉM CONHECE...AS CRIANÇAS QUASE SEMPRE SÃO AS VÍTIMAS DE CASAMENTOS FRUSTRADOS,DE EDUCAÇÕES SEM SENTIDO, DE REGRAS COMPLETAMENTE FORA DO NORMAL....TUDO ISTO GERA DESIQUILÍBRIO E DEPOIS O RESULTADO É OS PAIS SE QUEIXAREM DOS FILHOS E ATRIBUIREM-LHES TODA A CULPA...
E MUITAS VEZES JOGOS DE INTERESSES EM QUE SE METE A CRIANÇA NO MEIO QUANDO DÁ JEITO...E OLHA QUE ISTO SUCEDE EM FAMÍLIAS ATÉ DA CLASSE MÉDIA ALTA...
DEPOIS PORQUE SERÁ QUE A CRIANÇA NÃO TEM RENDIMENTO NA ESCOLA, ,TEM UM COMPORTAMENTO DOS DIABOS...PORQUE SERÁ QUE QUER TODAS AS VONTADES ....E POR AÍ FORA...
HÁ PAIS QUE NUNCA DEVERIAM SÊ-LO...PORQUE TODA A GENTE QUER EXPERIMENTAR TER FILHOS ...MAS ESTES NÃO SÃO RATOS DE LABORATÓRIO...
LAMENTO MARY BROWN...ESTE ASSUNTO TEM PANO PARA MANGAS...TU ACENDESTE...E EU VIM...RSRS
BEIJOCAS VERDADEIRAS
infelizmente, as novas gerações são assim. a tal frase "eu não te pedi para nascer" é uma constante na vida de muitos pais.
eu não cresci assim. no meu tempo de miúda [e continua a ser assim] a palavra "respeito" fundia-se com as palavras "mãe" e "pai".
as atitudes de muitos jovens deixam-me muito revoltada. por vezes, só me apetece lhes pregar um bom par de bofetadas apesar de ser contra este tipo de reprimenda. mas... vêem-se miúdos com 16, 18 e muitas vezes 20 e até 26 anos, a tratarem os pais como criados para toda a obra.
pior são as crianças. lido frequentemente com uma menina de 5 anos que, confesso, deixa-me completamente alucinada. a palavra "não" começou a existir, somente, agora. da minha boca, claro. porque ninguém, na família nega seja lá o que for à princesa. se quer gelados atrás de gelados [apesar de ter os níveis de "mau" colesterol completamente desequilibrados para uma criança de 5 anos], dão-se gelados. não quer comer, não come. trata a avó como eu nunca vi. grita-lhe, bata-lhe, insulta... estou sempre a chama-la à atenção mas, confesso, ultimamente, limito-me a sair de perto dela. porque a minha vontade é dar-lhe um bom safanão. porque não me venham cá com histórias: esta criança sabe muito bem manipular tudo e todos. sabe muito bem o que faz. sabe que está a fazer mal.
os meus pais deram-me uma excelente educação. espero, sinceramente, que se algum dia tiver um filho, lhe consiga dar a mesma educação. porque não tolerarei uma criança que me ofenda, que me bata.
um beijinho, querida...
A Mary põe o dedo na ferida, mas as questões colocadas pela Pedras têm toda a pertinência. Se é verdade que muitos filhos manipulam os pais, quem os educou de modo a que se chegasse a esse ponto?
Mas o tema está longe de estar esgotado. Há tanto para falar e reflectir! E, tenho a certeza, muitos desabafos para pôr em dia...
Obrigado, Mary, por levantares a questão.
Beijo :)
Muito pertinente este teu post e muito completo na sua exposição, infelizmente motivado por um dramático acontecimento e estes acontecimentos arrepiam-me. Nada justifica que se mate e neste caso só posso pensar numa anomalia psíquica, não diagnosticada ou com terapia protelada.
Já abordei no meu blogue, o relacionamento pais e filhos, até referindo os meus filhos. Evidentemente que quando fui filha a situação era muito diferente, havia respeito, sabiamos compreender as possibilidades dos pais e quando fui mãe a educação dos meus filhos foi feita dentro desses príncipios, o respeito e o conhecimento da realidade. Obvimente que os meus filhos, por um contexto diferente em que se vive hoje são mais rebeldes e isso exige mais tempo de conversa, é exactamente por essa via que me tenho norteado.
Não sou exemplar obviamente, mas considero que é muito mais importante conversar com os filhos abertamente sobre tudo, do que lhes dar coisas e alimentar-lhes falsas ilusões.
Muitos beijinhos para ti,
Manuela
A minha educação foi baseada numa mistura de autoridade e intolerância e quando fui mãe tentei sempre juntar o respeito à compreensão e partilha.
O respeito é a base de TODAS AS RELAÇÕES, quando ele falha tudo se desmorona!
Estou de acordo consigo, é aos pais que cabe impor os limites, sob pena de estarmos a criar uma geração de frustrados e intolerantes.
Obrigada pelo seu carinho aos meus "5 minutos".
Um beijinho grande
Obrigada. Beijinhos
Beijinho grande
MARY,NINGUÉM NASCE BOM,NINGUÉM NASCE MAU...
QUANDO SE VEM AO MUNDO,VIMOS DESPIDOS ,NUS, SEM NADA...UMA FOLHA PRATICAMENTE EM BRANCO...
BEIJÃO E NÃO TE ZANGUES COMIGO,TU NÃO!!!NADA DE CENAS DE PUGILISMO...RSRS
BOA SEMANA
KISSES AND MORE KISSES
PAssam-se os valores, as regras, as emoções. Depois passam-se também os nossos hábitos, a nossa forma de estar em sociedade.
Educa-se bem ou mal independente da classe social.
De uma maneira geral, quando o agregado familiar tem possibilidades monetárias, dificilmente se apercebem dos excessos, porque os pais são os principais consumidores.
Até mesmo os agregados familiares que têm dificuldades monetárias não fogem à regra porque é uma questão de sociedade. O filho deste tem logo o meu também tem de ter.
Depois, é uma bola de neve. Refiro-me como é logico, aos bens materiais.
Talvez esta crise venha colocar um travão a este tipo de situação.
Quanto ao crime a que te referes e que nos chocou sobremaneira... Este caso é estranho porque ninguém normal faz o que este jovem fez à sua mãe (adoptiva), tem de haver algo por trás de todo este comportamento.
Beijinhos
Brown Eyes
Eu nunca te esqueço. Tu e Manuela
foram pessoas que me escreveram no Sapo, onde estive ,a sério, um ano.
Vim com coragem para o google, através de Manuela e te tive como seguidora de imediato, e no mesmo instante, Manu.
Estou aqui no google há cerca de três meses (a sério).
Quanto ao teu texto, muito bem
apresentado toca um tema de todos os dias.
Te vou dar uma análise pessoal:
No tempo anterior, no meu e talvez no teu, os pais eram demasiado severos.
Nada perdoavam, eram senhores absolutos dos filhos e os filhos tinham medo ou respeito pelos pais.
muitas vezes medo recalcado, escondido.
Estava errado! Era um Extremo!
O mundo muda, as geraçõrs mudam, se transformam e numa espécie de vingança ancestral, os filhos deste tempo, tomaram o outro Extremo.
Os Extremos é que predominam em
qualquer lugar, neste nosso caso, a
família.
Não há moderação e a parte mais suave, o meio-termo, não existe!
Os filhos passaram a mandar nos pais, a desprezar os pais e os pais têm medo dos filhos.
Os Extremos mudaram! Os pais severos que até parecia que não tinham amor aos filhos, não existem mais... e neste instante os
filhos inconscientes, a quem tudo se dá, odeiam os pais e até os matam.
Estão a criar-se monstros? Talvez...
Mas ainda temos forças para encaminhar os filhos e os trazer, ao meio-termo.
Mas está tudo tão mau que não sei quanto tempo vai passar, até à
reconciliação de pais e filhos.
Essa morte não é a primeira e não vai ser a última, infelizmente.
Não esquecer que a a confusão que se criou com a Liberdade, tudo
transformou e liberdade passou a ser usada e abusada e já não significa Nada!
Todas as palavras usadas
sem verdade ou convicção,
não correspondem ao verdadeiro
sifnificado,
ao verdadeiro sentido.
Se perderam e são usadas sem dignidade, valor, ou moral.
É tudo muito bonito (parece) mas as
consequências estão a aparecer e
não sei até que ponto.
É um tema que tem muito a debater.
"A queda nos Extremos é terrífica."
E é o que está a acontecer!...
Assim eu penso
Assim eu digo!
E acredito no que digo
e também acredito e louvo, o que tu
dizes!
Tens toda a razão! É um tema a ser debatido por todos e não apenas
"por alguns".
Isto que nos contas é real!
Não pode se visto com indiferença!
Beijos e obrigada por escreveres.
Mª. Luísa
Obrigada pelo poema, lindo com uma mensagem de suma importância. Beijinho Grande para ti.