Fez dois meses que vos comuniquei que ia fazer um interregno, na minha vida de bloguista, que me ia ausentar. Inicialmente não imaginava que ia estar tanto tempo sem comunicar, sem vos visitar mas, o tempo foi passando e eu continuava sem certezas quanto à data de regresso.
Fez dois meses, por tal, porque dois meses é muito tempo sem dar notícias, voltei. Voltei mas, continuo quase na mesma, cansada. Cansada física e psicologicamente. Sei que não posso culpar a minha tireóide de todo este cansaço, apesar de ter a noção do grau de seriedade do seu mau funcionamento. Sei que a maior parte deste cansaço se deve ao reconhecimento da gravidade económica em que estamos imersos, à informação difundida pelos meios de comunicação social, matam a esperança, às medidas tomadas pelo governo, às previsões para o futuro, à decepção,
O bem-estar da sociedade a que pertencemos influencia o nosso estado de espírito que, por sua vez, influencia a nossa saúde.
Este tem sido um ano de perca, perca para todos os que tiveram uma vida de luta, perca para o ser humano que tem, de dia para dia, sentido serem anulados todos seus direitos. Hoje, não podemos esperar um aumento de ordenado, agradecemos, apenas, pelo facto de termos trabalho, de não engrossarmos a lista de desempregados.
Em pouco tempo roubaram-nos quase tudo, restando-nos, ainda, a vida. Uma vida incerta, uma vida que pode ser saqueada, quando a crise social explodir.
Este é o resultado de uma sociedade de consumo onde as necessidades criadas superam o rendimento mensal, onde as necessidades não são básicas, onde o ter desvaloriza o ser, onde o proveito vence o direito.
Onde está a felicidade e a perfeição? No parecer ou no ser? Na utopia ou na realidade? Na bondade ou na maldade? Na humildade ou na elevação? Na inferioridade ou na superioridade? No mérito, na capacidade ou na “cunha”? Na virtude ou no defeito?
Quem poderá ter certezas? Eu não as tenho. Não as posso ter quando vejo, diariamente, o ser humano, aqueles que considero humanos, a serem espezinhados, calcados, apunhalados, trucidados, mortos lentamente.
Qual o objectivo desta sociedade? O bem-estar do Homem? O lucro ou o poder? Mata-se o semelhante, sem arrependimento, sem consequências, sem hesitação, por dinheiro, por poder, para ter.
Vivi e vivo para viver, para ver viver. Dói-me, massacra-me, ver pessoas a serem anuladas, a serem utilizadas, a serem aniquiladas, a deixarem-se exterminar. Não compreendo como alguém se consegue imaginar superior ou inferior a outro. Como alguém consegue deitar comida fora sabendo que há milhões de pessoas a passar fome? Como alguma pessoa pode pôr alguém a poupar quando gasta sem limites? Como pode alguém querer que sigam um caminho quando, ele, nunca soube o que era uma estrada? Como pode alguém alvejar outrem quando é um poço de defeitos? Não pode mas, fá-lo. Fá-lo e parece que todos acham isto normal.
Normal, normalidade…… Alguém consegue esboçar a normalidade do século vinte e um? O que provocou a alteração do seu significado? O que levou à alteração das mentalidades ao ponto de aceitarmos o que antes apontávamos a dedo? Terá sido o poder? O egoísmo? A facilidade? Ou a imperfeição inata do ser humano?
Trabalho…Tenho saudades dos dias em que, no “trabalho”, se respeitava o trabalhador, se valorizavam as suas ideias, se incentivava a inovação e a criação. Saudades dos dias em que havia organização no trabalho. Hoje quanto mais desorganização, quanto mais perdido andar o trabalhador, quanto menos humanidade houver melhor. Máquinas, querem máquinas obedientes, sem cérebro, máquinas com a duração de seis meses, depois…Depois rua. Rua e entra o filho do “Soares” que nada sabe fazer mas, é filho do partido. Dão-lhe um alto ordenado (Crise? Onde?) e remendam os seus disparates. As alterações que se fazem têm em vista, apenas, um tacho para alguém, não o benefício do povo.
Acredito que, depois desta crise, todos tiraremos conclusões, todos descobriremos a importância e o objectivo da nossa vida. Essa, que podemos perder a qualquer momento mas, que nos permite usufruir de toda a maravilha que nos cerca. Essa mesma que ligaram a uma Comunidade Europeia que, afinal, tem servido para tudo menos para unir uma sociedade ou ligar uma irmandade.
O ser humano, esse que tem sido considerado um objecto, é o único por quem vale a pena lutar, o único que merece o nosso sacrifício, perpétuo, o único que nos premeia com atitudes inesquecíveis.
Inesquecíveis têm sido as vossas palavras, as vossas atitudes de afecto, a vossa preocupação, nestes dois meses. São estes os bens que quero preservar, são estes os bens que me acompanharão toda a vida, vá para onde for seguir-me-ão. Por estes bens aqui estou, tentando normalizar a minha presença na vossa vida, devagarinho, tentando conseguir agradecer-vos tudo que me têm dado, tentando continuar a merecer o vosso carinho. Colocarei e distribuirei, logo que possível, os vossos selos que, desde já, agradeço.
Eva, para ti, vai um beijinho especial e um muito obrigado. Obrigado por tudo o que és, por nos teres dado oportunidade de conhecermos uma Grande Mulher, uma mais-valia nesta blogosfera e, por isso, aguardamos o teu regresso. Não te esqueças que estamos fartos de perder.
Mais uma despedida, esta eterna, Saramago, uma pessoa que admiro muito, pela frontalidade, pela coragem, pela clareza e independência do seu pensamento, pela sua noção de verdade, que dizia ser questionável, sujeita a prova, pela sua bondade.
Como podem homens com Deus serem tão maus? Perguntou Saramago e eu acrescento:
Como podem homens com Deus gerarem tanta desigualdade e tanta infelicidade?
Brown Eyes
Brown Eyes
Comentários
Esquece essas tretas e aprovita só o bom... nomeadamente na blogosfera, na vida em geral :) CUMPS
Quanto ao que escreveste, não sei se tenho muito a dizer visto que sou estudante... Mas numa sociedade capitalista raramente se valoriza o trabalhador, e mesmo assim, nas firmas recentes e modernas estão a tentar mudar essa perspectiva...
De qualquer forma, o capitalismo é assim, uma roda... Se durante 50 anos vivemos em prosperidade, nos outros 30 temos crise... Para isso ainda não há solução. Só podemos fazer o nosso melhor, para nós e para os que amamos. Tentar a nossa sorte, nunca desistir e não ter medo :)
Beijo*
O teu regresso dá-me alegria e também tristeza, pois vejo que estás com problemas de saúde e revoltada com o rumo que toca a nossa sociedade.
A maioria está no mesmo barco, amiga...
Agora toca a arrebitar se faz favor!
Um beijinho com muitas saudades.
ouço as noticias, sinto na "carteira" o que eles nos fazem... e eu pouco posso fazer para alterar a situação. tento remediar-me, tento ajudar naquilo que posso...
e, principalmente, deleito-me com cada amanhecer, com as minhas pombas que todos os dias me vêm pedir de comer, na janela da sala... e com outros pequenos nadas (que na realidade são gigantes).
no início da crise eu também me senti perdida, até ao dia em que me apercebi que se não desse um basta, eu desabaria. isso já aconteceu uma vez, não permito que aconteça novamente.
vivo um dia de cada vez...
fico muito contente com o teu regresso. espero, sinceramente, que fiques por aqui (fazes falta)... e não permitas que tapem o teu sol (aquele que habita no teu coração). se a vida fosse sempre fácil... que vitórias celebraríamos?
um beijinho solarengo...
BEIJINHOS
sei que te deixas afectar por tudo aquilo que descreveste. não és a única e se calhar ainda bem. se todos pensassem como tu se calhar o mundo seria bem melhor. mas não deixes que isso te roube a felicidade e principalmente a esperança num futuro melhor.
em alturas como esta é o que nos resta...
já tinha saudades... =D =D =D
Beijinhos
Eu estou com o Jóni (devo estar maludo ou assim...)já dizia a minha avó, tristezas não pagam dividas, e pode ser já um assomo de senilidade minha, mas acho que o pessimismo, o desalento, a tristeza instituida não vai levar-nos a lado nenhum. Desabafa, porque desabafar alivia, mas jamais te esqueças que o caminho de faz caminhando e de preferência com aquela máxima sempre a bater: alaways look to the brigh side of life!
Beijo grande grande
Estava a ver que tinha de me chatear. -.-'
Anyways, glad to have you back. ;)
Quanto ao teu post, entendo-o 100%, porque também eu ando um pouco assim.
A incerteza está a dar comigo em doida, e nem uma luzinha ao fim do túnel aparece para nos dar algum alento.
E o que fazer? O povo está catatónico. Eu por mim falo.
Abraço*
Beijinhos
Também estive uns dias ausente.
Beijosss
AL
Fique por aqui, nada é pior do que ficar na concha!...
Beijinhos,
Manuela
FOI MUITO BOM TERES VOLTADO...JÁ FAZIAS FALTA...NÃO TE DEIXES ABATER ... PRECISAMOS DE TI SEMPRE SAUDÁVEL...E EM FORMA PARA CONTESTARES...
BEIJINHOS MEUS
Patty
Partilho todas as suas preocupações, dúvidas e anseios, também vivo frustrada e triste por ver o meu país perdido, os nossos jovens sem futuro e o nosso futuro comprometido.
Mas preciso sobreviver, preciso de ter um brilho de esperança no meu olhar para não me perder.
Esse brilho vou buscá-lo às coisas que me fazem feliz, ao sorriso dos meus filhos, ao amor pela minha família, ao abraço dos amigos, ao tempo que disponibilizo para o que me dá prazer.
Tudo isto para lhe dizer, que não nos podemos abater, que precisamos de todas as nossas energias para lutar, para andar para a frente.
Não podemos alimentar a tristeza e a depressão, pois elas são traiçoeiras.
Um beijinho grande
Fê
Beijinhos e obrigada.
Já estou como diz o johnny, o melhor é esquecer tudo e tentar tirar partido só das coisas boas, que vão sendo cada vez menos. Já pagamos a crise com a carteira, não podemos permitir que nos roubem também a nossa sanidade.
Um beijinho grande e sê bem-vinda!
Fê
Beijinhos e obrigada
Um grande para ti.
Li o seu comovente testemunho (no comentário que aqui escreveu à Helga) e não posso ficar indiferente a tanta dor e injustiça.
Não fico indiferente porque vivo, embora de outro modo, a dor de ver um filho a ser espezinhado por um data de incompetentes que governam este país.
Temos que nos unir, temos que dizer basta a tanta humilhação, porque temo que acabemos por nos calar devido ao cansaço.
Um beijinho comovido
Fê
bj
Com está? Tenho saudades suas, não se deixe abater, não lhes dê esse prazer!
Beijinhos
Fê
porque no meio desta loucura toda, acho que é quando perdemos a nossa sanidade a favor desses doidos engravatados que perdemos tudo.
por isso, cada vez mais, chego a casa e respiro fundo, respiro o sorriso da minha filha, os mimos do meu marido e o meu estirador cheio de cores e folhas brancas...
e aí, sinto, que sou capaz de conquistar o mundo.
ah e gosto de dar... é tão bom dar!
beijinhos e bem vinda:P
mas ficaram memórias de momentos bons demais, nas Aldeias SOS, e contacto com famílias que pedem o que a nós parece banal e gratuito no dia a dia... como ter uma caixa de cereais para dar aos filhos, e eles verem aquilo com a mesma alegria que outros têm ao receber uma Playstation:P
Parece que apareci no tempo certo na hora exacta.
Fazes muitas perguntas cheias de verdade e não te posso responder,
pelo tempo, pela saúde, pela vida.
Mas amei teu texto. Nunca culpo Deus, pois o homem trouxe com ele o chamado "livre arbitrio" para se
comportar como entender, enquanto caminha na terra até ao final.
Um dia, tarde , vai reconhecer ainda nesta vida, o mal que praticou e não pode voltar atrás.
Mas descobre o mal que fez, cedo ou tarde. Disso eu tenho a certeza!
Estamos a atravessar uma época má.
Todas as épocas tiveram dor, sofrimento e maldade.
Isto é a continuação da falta de Amor no mundo.
Por estas e outras razões eu escrevo sobre toda a espécie de Amor.
Muito bom teu texto!Felicidades,
Maria Luísa Adães