Petiz, desarmada, imaginava que quando fosse “grande” o horizonte se tornaria límpido, que poderia ver com nitidez o que ficava para lá da linha. À medida que os anos passaram a linha foi-se distanciado. Sentei-me muitas vezes a tentar perceber o porquê, mas a vida continuava a decorrer e, eu, obrigava-me a erguer-me. Vezes sem conta fiz a mala e parti, outras tantas modifiquei o percurso. Em vão. A vida que imaginei atrás da linha parecia um capricho, um capricho para alguém que tão concretamente aspirava conquistas.
Sei que se fosse dúctil há muito tinha chegado, não se teme quem nada quer, não se atraiçoa quem julgamos débil mas apunhala-se, pelas costas, quem imaginamos infrangível.
Incorrigivelmente fui caminhando, lacerada, despedaçada, sangrando por te teres sumido. Não seria por ti que eu rebentaria num báratro. Quantas vezes mo gritaste mas, aquilo que ainda restava de mim, erguia-me assombradamente.
Monstruoso era o sentimento que imanava de ti, alguém afável, terno, compassivo, torna-se no oposto, venador, aguardando a derrocada final.
Tinha-te traçado, fundado e erguido, durante anos não houve encanamento ou ligação que se mostrasse imperfeita. Depois, depois devo ter adormecido. Acordei longe, esfarrapada, esbandalhada, no entanto, estava lá, ainda, o filamento que me ligava ao solo. Recebia imensas descargas que, em vez de me calcinarem, revigoraram-me.
A existência é feita de imprevistos, o planeamento não prevê fortes vendavais, tempestades, nem inundações anormais, aliás quem consegue prever o extranatural?
Esqueci-me dos malditos duendes, erro imperdoável. As travessuras que eles pintaram naquela obra! A minha obra.
Hoje, continuo a transitar pela vida, com perspectiva na existência, devaneando contigo, conduzida por uma divindade, sem perder a direcção.
Brown Eyes
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Beijinho