Ontem, no correio, recebi uma carta, de um banco que não vou citar, que me obrigou a reflectir e a rir às gargalhadas. Dizia ela que tinha um crédito aprovado, 25 000,00 euros, para o que eu quisesse, carro novo, férias ou até obras em casa, do qual poderia usufruir tendo, apenas, que fazer uma chamada telefónica ou dirigir-me ao balcão do banco.
É tão fácil aprovarem-nos um crédito, fazem-no até sem nós pedirmos! Crédito para carro novo, férias ou obras em casa? Será que estas banalidades merecem algum sacrifício? Será que alguém deve comprar sem ter dinheiro? Que ganhará um banco por emprestar dinheiro, sem juros, a pessoas que vivem do ordenado e que têm dificuldades em esticar o dinheiro até ao fim do mês? Que ganhará ele em emprestar dinheiro, em tempo de crise, sabendo que amanhã podemos não ter ordenado para pagar? É que hoje trabalhar no estado deixou de ser uma garantia. Porque será que não são mencionadas, na carta, as contrapartidas, nomeadamente, a prestação mensal e o tempo de pagamento da dívida?
Quando a esmola é grande o pobre desconfia. Era assim, antigamente o pobre desconfiava hoje, hoje o pobre cai, cai e está convencido que lhe estão a fazer uma oferta irrecusável, sem juros, sem contrapartidas, pela sua bela cara, sim, bela cara que é a única coisa que em princípio ele terá.
Nunca me dispus a endividar-me para adquirir bens porque contei, sempre, com o imprevisto e porque achei que seria mais feliz sem encargos às costas, vivendo livremente. Não me consigo imaginar presa a uma prestação de uma casa ou um carro, tendo uma vida com tempo limitado, uma vida que pretendo viver hoje aqui, amanhã talvez além, pouco interessa, interessando-me, apenas, a felicidade que possa ter no momento, não os bens. Se pensamos todos assim? Não. Há quem se endivide para ter uma casa, um carro, um plasma, uma consola ou até um telemóvel.
Agora pergunto eu, se eu nunca me endividei para ter nada, paguei sempre a pronto, que culpa tenho eu que tenha havido pessoal que o tenha feito? Mais grave ainda, fê-lo em meu nome, pelo que me consta, porque é a mim que me estão a pedir, mensalmente, esse pagamento. Essa dívida não tem fim e o dinheiro que pago parece não estar a ser utilizado para o que devia. A dívida tem aumentado, apesar de me dizerem que estão a fazer cortes, que tenha paciência, que tudo ficará resolvido em breve.
Pois é, todos nós temos maneiras diferentes de encarar a vida, sei disso como, também, sei que não temos todos a mesma maneira de resolver os problemas nem tão pouco assumimos todos os nossos erros.
Achei sempre uma cobardia quando alguém fugia às suas responsabilidades e em vez de assumir os erros cavava, a sete pés, ou, até, tentava culpar outros.
Isto tudo para dizer que não me pediram a opinião para empenhar Portugal, não fui eu que o fiz, não sou culpada de nada, vivi sempre segundo as minhas posses e estou cheia que me responsabilizem e me obriguem a pagar uma factura que aumenta, de dia para dia, e para a qual não contribui.
Quem fez essa dívida? Alguém. Onde foi utilizado o dinheiro? Aqui ou ali. Qual o objectivo dela? Isto ou aquilo. Quem beneficiou? Alguém. Quem usufruiu dos lucros? Alguém, não se sabe quem. Não há provas, destruíram-nas.
Para quê endividar o país? Que benefício isso nos trouxe? Ninguém sabe, não se viram melhorias, apenas auto-estradas, com grandes buracos, escasseou o alcatrão. Os orçamentos foram incorrectamente elaborados, nem isto sabem fazer, e houve que poupar no material para as finalizar,
Quem beneficiou? Quem consegue responder a esta pergunta, quem? Quem beneficiou que pague PORRA! Eu nunca vi lucros e apresentam-me, agora os prejuízos?
Tenho que pagar por ser Portuguesa? Acham que sou? Não, não sou. Nunca fui nomeada, nunca recebi subsídios, nunca vi prémios, nunca meti ajudas de custo, nunca viajei à custa do estado, nunca recebi subsídios de representação, não uso telemóvel do estado, pago o combustível que gasto, não como nem bebo à custa dos portugueses, cumpro o meu horário de trabalho, ofereci horas extraordinárias, não utilizo o horário laboral para fins pessoais, pago os meus impostos, nunca tive mordomias, nunca meti cunhas e vivi, sempre, do meu trabalho. E agora tenho que pagar as dívidas que um fulano qualquer fez?
Portugal está falido, está? Não acredito. Quem está falido poupa, não sai de casa, não faz nem vai a festas, não faz compras, não dá prémios, nem faz obras.
Mas Portugal sai de casa, aí sai. Sai e faz prejuízos de 1,5 milhões de euros, prejuízo que a selecção nos deu, prejuízo que não invalidou que Queiroz recebesse 710 mil euros de prémio e cada jogador 100 mil euros. Está Portugal em crise?
Festas? Também faz, a comemoração dos 100 anos da república custou-nos 10 milhões de euros. Só o mastro, onde foi hasteada a bandeira nacional, de 100 metros de altura, custou 280 mil euros.
Compras? Muitas. Comprou 922 viaturas novas, no valor de 11 milhões de euros. Que tal se arranjasse dinheiro para fazer as revisões às que tem? Mas há mais, muito mais.
Prémios dá muitos, premeia, em 2008, até administradores que dão prejuízo, como os da ANCP, 963 mil euros, o que não invalidou que recebessem 70 980 euros, no total, em prémios: os dois vogais receberam 22260 e o presidente 26460 euros. Estamos em crise?
As obras continuam. Portugal acha que deve pouco e pediu, recentemente, ao Banco Europeu de Investimento, 1 500 milhões de euros para investimentos prioritários, no âmbito do QREN, 300 milhões de euros para o Hospital Lisboa Oriental, em Chelas. Parece que ainda não aprenderam, não sabem que quanto mais pedirem mais corda terão à volta do pescoço.
Acham que me interessam os investimentos do QREN? Não. Futebol, mastros, comemorações da república, hospitais, que se lixe tudo.
QUERO O REGRESSO DA MINHA PAZ e QUERO TRABALHAR PARA MIM. Compreendido?
Iluminados temos muitos em Portugal, como Paulo Almoster, director da Agência Financeira, que diz que Portugal deverá seguir o exemplo de outros países, cortar nos salários dos funcionários públicos, exemplo que pode ser seguido pelos privados acrescentando:
Ou cortamos salários e ficamos a trabalhar, ou há pessoas que podem ser despedidas.
É? Inteligente, aí é? Cortamos? Onde? Em quem? Nos vossos salários? Estou de acordo. Um palpite desses só indica pouca inteligência e, assim sendo, não devia ganhar salário nenhum. Já comparou os salários, os nossos e os do resto da Europa? Óptimo. Então concluiu que não há cortes a fazer. O salário mínimo na Irlanda, país que fez um corte nos vencimentos, é de 1 462 euros contra os 475 euros em Portugal. O IVA nos dois países é de 21%.
Os funcionários publicos são mesmo malandros, não é? Pensam vocês que eles são os causadores desta crise? Pois é Sr Paulo Almoster, eu, funcionária pública, NÃO QUERO REDUÇÂO DE VENCIMENTO, não, NÃO QUERO QUE ME CORTEM O 13º. MÊS, não, DESPEÇAM-ME. Exacto, despeçam-me. Chegou a hora de também eu receber um subsídio, de alguém me sustentar, porque eu ando farta de o fazer. Acha o Sr que eu, a trabalhar há 25 anos na função pública, licenciada, com um ordenado limpo de 830 euros quero reduções ou mais cortes? Não. Que me despeçam mas, trabalhar com um ordenado MAIS mexuruca que este, na função pública, NÃO! Antes queria ir limpar retretes. Querem mão de obra barata? Trabalhem vocês. Não cedo a chantagens nem estou para aturar oportunistas por uma miséria. Não sou romena, nem lituana, nem búlgara, nada que se pareça. Não trabalho em troca de um soldo miserável. Quero ser irlandesa, luxemburguesa, belga, francesa ou espanhola, tanto dá, o ordenado, nestes países, compensa qualquer sacrifício. Compensa mas, aqui, neste país falido o meu ordenado já não remunera, há muito, o que passo no meu dia a dia de trabalho. É que eu não sou uma inútil, uma inútil que agradece a côdea de pão que lhe dão e se baixa agradecendo um lugarzinho no mundo do trabalho. Não sou mesmo, porque o que tenho não me foi oferecido, GANHEI-O.
O Sr. já viu crescer alguma economia na qual o povo anda nu? Como se produz sem dinheiro? Como pode haver lucros quando não há vendas? Explique-me. Quem compra? Não será o povo? Como se não tem dinheiro, se lho tiram todo? E a segurança do país, como fica? Pois, faltam-lhe alguns dados importantes.
Acabem com as aparências, de nada vos serviram, dobrem as costas e trabalhem em vez de passearem. Não saiam do país, não precisam, agora que este país está informatizado utilizem a internet, não comprem componham o que têm, não festejem trabalhem, não peçam dêem, não premeiem os inúteis porque nunca se tornarão úteis, é perca de tempo e dinheiro, cortem as mordomias, criam maus hábitos, produzam, ponham na rua os boys, coloquem lá homens, homens que pensem, que tenham personalidade em vez de só saberem obedecerem. Entreguem telemóveis, carros e outros bens do povo. Igualem os vossos salários aos nossos, pois é, igualem-nos e verificarão como é fácil viver com esses míseros tostões e obedecer aos pedidos de sacrifícios. As contas que têm nos paraísos fiscais fechem-nas e ofereçam o dinheiro para pagar a "nossa", a vossa, dívida externa. Afinal sempre foram vocês que a fizeram, não? Não desorganizem, organizem. Façam justiça, calem os iluminados que falam, falam mas não sabem o que dizem, porque não sabem o que custa a vida nem tão pouco qual é a realidade do país.
Precisam de conselhos? Peçam-nos ao Salazar, quem sabe ele se dispõe a ajudar-vos. É porque esse era isto e aquilo mas, sabia o significado de igualdade, fazia os sacrifícios que pedia ao povo e não vivia de aparências, poupava. A propósito onde está o ouro que ele deixou? ONDE?
Eu gosto de viver numa ditadura, não me custa cumprir o que está bem delineado não tendo, por conseguinte criticas a fazer mas, não consigo, não consigo mesmo viver numa republica das bananas onde reina a corrupção a opressão, a desigualdade, a mentira, o oportunismo, a injustiça e a liberdade aparente. O feudalismo, na Europa, extinguiu-se no século XV, com excepção da Rússia, século XX, portanto, há muitos anos que acabaram os senhores, os feudos e os servos, sabiam?
Eu gosto de viver numa ditadura, não me custa cumprir o que está bem delineado não tendo, por conseguinte criticas a fazer mas, não consigo, não consigo mesmo viver numa republica das bananas onde reina a corrupção a opressão, a desigualdade, a mentira, o oportunismo, a injustiça e a liberdade aparente. O feudalismo, na Europa, extinguiu-se no século XV, com excepção da Rússia, século XX, portanto, há muitos anos que acabaram os senhores, os feudos e os servos, sabiam?
Ai se eu acreditasse em Deus, se acreditasse mandava-vos a todos para o inferno a pão e água.
Brown Eyes
Comentários
Bj
BEIJINHO
Beijinhos
Abraço
Eu estou reformado, safei-me a tempo, apesar de ser uma reforma de merda para o que trabalhei; dá para viver porque sou solteiro, tenho casa própria e não tenho vícios...nem dívidas!
Não chego ao fim do mês com um "tusto" e ando a fazer orçamentos rectificativos todos os meses...
Daí todo o meu apoio à tua revolta, salvo no final: não me chames o Salazar para resolver os problemas do país, pois assim, muito mal que estejamos, ainda podemos gritar a nossa revolta e com ele, tínhamos que calar as nossas indignações.
Beijinho.
Bjs,
Hubner Braz
Eu também só compro aquilo que posso comprar, sem créditos.
Bjocas
Patty
sua visita ao meu blogue intemporal-pippas, mas dado a Google não me permitir inserir mais
fotos, peço-lhe o favor de me passar a seguir em
http://agoam7.blogspot.com
Beijinho/Irene
Desculpe-me mas só agora, e apesar de já ter lido este seu post quando o publicou, tive o tempo necessário que para o comentário que ele merece.
Este seu post devia ser enviado para o governo, para aqueles incompetentes que nos governam, ou desgovernam.
Eu também fui educada a cumprir, a não ir além das minhas posses, a não ter vícios, e até acho que sou descriminada por isso, pois não exibo um bom carro, boas roupas. Mas tudo o que tenho está pago e como bem disse, agora tenho que pagar pelos vícios dos outros.
Dá vontade de emigrar, só tenho pena de já ter 53 anos, mas estou a incentivar os meus filhos a saírem deste país de oportunistas e ladrões.
Apoio incondicionalmente a sua revolta.
Um beijinho
EU ACREDITO EM DEUS E ACREDITO NA JUSTIÇA DIVINA...TARDE OU CEDO...CHEGARÁ.
UM BEIJINHO ENORME
Anyways, o teu grito é o de todos nós.
Eu acho tudo muito confuso... muito caótico. Não sei como raio o país vai sair deste buraco. É que enquanto não sair, quem menos tem é quem, sente na pele a estupidez de quem nos governa/governou.
bjinhos*
o teu texto penso que reflecte o estado de espirito de muitos Portugueses. Todas as perguntas que fazes são pertinentes, onde está o dinheiro, sim porque de certeza que não se evaporou... Ainda assim vamos construir aeroportos, auto-estradas e o tal de TGV, que nos meus tempos era tequilla, gin e vodka.
Para terminar, li algures que cada criança que nasce tem automáticamente uma dívida de 16.000€, bolas se soubesse não tinha registado a minha pequenota, sim porque os nossos filhos ainda vão sofrer mais que nós.
Bj