Ela, Licenciada em Economia, desloca-se num Mercedes Classe A “Special Edition”, vai às compras a Paris, Londres e Milão, passa férias no Dubai mas, por incrível que pareça, não perde um mexerico. É vê-la deambulando pela internet à procura do Big Brother, brasileiro, alemão ou francês, pouco importa. Perde horas a observar a vida alheia, mais atenta do que se da dela se trata-se. E os blogs? Como ela gosta dos triviais, daqueles que falam da vida privada, tal e qual ela é, os de moda, os que apresentam o último grito em roupa, pintura ou calçado, que interessa? Têm é que falar das banalidades do dia a dia, de bisbilhotices, das quezílias entre marido e mulher, pais e filhos, entre vizinhos ou, até, do novo namorado. Assim, a Maria, vai entulhando a insatisfação que lhe destrói as entranhas, a insatisfação de viver no mundo que foi eleito para si, eleito para si mas não por si.
A vida pouco a tem compensado, uma vida de submissão à vontade do pai, que sempre a sonhou doutora, que a casou com o Joaquim lá da terra, filho do Manuel dos Autocarros, que a trocou pela filha da Cigana das Louças, após seis longos anos à espera de um descendente. Maria, a menina perfeitamente perdida.
Sempre que se senta no cadeirão para meditar toca o telefone. Maldito fado. Não a deixam pensar, organizar e delinear a sua vida, torna-la em algo útil, frutuoso, algo que amanhã possa recordar sem amarguras. Lá vai a Maria pagar mais um copo aos amigos que foi conhecendo nos dias que já percorreu.
A Maria teme o futuro, teme perder o capital, única coisa que o pai lhe deixou aquando da sua viagem eterna. Que seria dela sem dinheiro? Nada. Ela sabe que nada. Sempre foi uma dependente e, hoje, a sua falsa felicidade depende do dinheiro. Esse que sempre lhe deu tudo, menos a alegria de viver. Esse que faltou ao primo e o colocou a deambular pelas avenidas da grande cidade, onde todos o vêem mas ninguém o ampara. Mas o João ainda tinha um amigo, o Nero. Aquele que sempre o acompanhou, tivesse ou não que comer, tivesse ou não um tostão. O Nero estava sempre a seu lado, nunca o abandonou. Mas a Maria se perdesse o capital ficava sozinha, sem ninguém. Sem ninguém que a quisesse ouvir, que a aquecesse nas noites frias.
Nada é impossível e a gastar como o tem feito….Maria estava perdida, perdida para ser amada, perdida para se deixar amar, perdida para amar. Perdida por viver.
Vomitava banalidades, vomitava futilidade mas, nunca é tarde. Procuraria o João, dar-lhe-ia um tecto, uma esperança, uma oportunidade para realizar sonhos. Juntos ergueriam castelos, os que eles tinham desenhado.
Assim nasceu “ Perdidos no Paraíso “, onde as criancinhas do distrito, pobres e desventuradas, descobriam o amor pela vida.
Brown Eyes
Brown Eyes
Comentários
Beijinhos
Já viram bem naquilo em que nos tornámos? Já repararam como agora está tudo ao alcance de um click e como as coisas mais estranhas assumem um papel fundamental nas nossas vidas?
Que mudança tão radical de há 15/20 anos para cá...
Obrigada. Beijinho grande
Paulo
Deve ter havido aqui uma troca qualquer. Este comentário é do Perdida e Achada? Vê lá. Este blog às vezes prega-me umas partiditas.
Obrigada e desculpa se isto te ocasionou algum erro. É que o post é pequeno até. Juntou dois? Já não digo nada. BJS
Nem elas sabem que assim são... ou se sabem, vivem em negação.
Há pessoas para quem o essencial da vida se resume a roupas, sapatos, viagens, namorados e namoraditos...
Enfim... vidas.
Bjinho
p.szito. também adorei o novo template... já era para ter dito no post anterior mas esqueci-me. :p
Sou mesmo parva. =|
*
Agora falando no blog e no novo template, quem é amiga quem é? Pois se não fosse a tua ajuda não sairia do mesmo. Parva tu? Oh mulher não digas mais tamanha asneira. Tomara eu conseguir ser tão imensa[(e não só) o resto não vou aqui dizer para o pessoal não ficar a saber os meus defeitos)] como tu. Beijinho.