Avançar para o conteúdo principal

Pobres mas convencidos


Comecemos por analisar o que é o trabalho para nós? Um sinal de nobreza foi, sempre, não trabalhar. Andámos à descoberta e o que descobrimos foi quem trabalhasse por nós: os negros. Abrimos fronteiras e demos o trabalho pesado a emigrantes em troca de uns troquitos, um país com grande percentagem de desempregados. Habituamo-nos a ter um estatuto de privilégio que não tem relação directa com a capacidade de trabalho ou inovação. Mas somos um povo inteligente.A nossa mentalidade é de ricos e não deixamos de apanhar um táxi, almoçar fora, passar férias no estrangeiro, mesmo que para isso tenhamos que nos endividar até ao tutano. A aparência, a imagem de menino rico leva este povo a inúmeros sacrifícios e a culpabilizar a “má sorte”, pela baixa noção real que temos da vida. Andamos diariamente sobre o fio da navalha e claro basta vir um ventito para cair no abismo. Depois de lá estarmos, em vez de procurarmos uma liana esperamos sentados que caia uma escada governamental. Por sua vez, o Governo vai-nos penhorando para construir auto-estradas, aeroportos, TGVs, para não falar em outros gastos menos claros e mais questionáveis, quando temos, ainda, em pleno século XXI, povoações sem água canalizada. Mas somos um povo inteligente.
Assim vivemos, há séculos, autênticos rafflesias arnoldis, enormes mas sem raízes, dependentes dos insectos para sobreviver. Prostitutos, por opção, a troco de prazeres efémeros, prazeres que nos ceifam, que nos conduzem a vigílias curadas com um Prosac ou um Xanax. Mas somos um povo inteligente.
Temos que parecer, por isso sacrificamo-nos para adquirir o último modelo da Mercedes, um fato Dolce&Gabbana, uma camisa Gucci, gravata Brioni e uns sapatos Prada e, que não falte, o cinto Prada. Um The Different Company, que nos tira o odor a finado, nos perfuma a alma e estamos, sem sombra de dúvidas, prontos para encantar e enganar. Autêntico encanto, cai a meia noite, cai a realidade, transformamo-nos em Nosrredrams e Mogs. Mas andamos convencidos, convencidos da nossa importância, da nossa inteligência, do nosso protagonismo, de que somos muito bons, uns autênticos doutores e engenheiros (é só o que queremos ser).
Assim vivemos, há anos, perdendo o conquistado, penhorando o ouro, convencidos que somos e criticando quem é.

Brown Eyes

Comentários

Karlytus disse…
o q vale mais, ser ou parecer? todos respondem ser mas todos vivem como se fosse a outra a resposta certa..

um beijinho azul e um resto de fds bem tranquilo pra ti!
Brown Eyes disse…
Tens toda a razão. É difícil ser. Optei por ser e detesto tudo o que parece mas não imaginas o que me tem custado. Mas como sou persistente, como sei o que quero da minha vida, há anos, nem que me apontem uma pistola continuarei a ser o que sou e que se lixe o parecer. Continuarei com aquele carro velhinho que me permite viver desafogada, vestir-me como gosto não como a sociedade de consumo exige, a viver o dia a dia como se fosse o último, mantendo a minha consciência tranquila. As pessoas vivem como se nunca fossem morrer, eu vivo sabendo que amanhã posso cá não estar. Quando morrer achas que vou levar os bens comigo? Então para quê fazer sacrifícios por bens? Quero é conhecer tudo o que puder, viajar, viver os dias que me faltam, dentro do possível ser livre. Nunca somos totalmente livres principalmente quando temos que trabalhar.Tenho que me submeter aos horários, dias de semana, mas nunca farei nada por dinheiro, por interesse. Tento ser sempre coerente com os meus pensamentos, com as minhas noções de bem e mal. Tenho pena que as pessoas vivam tanto para o ter, morrerão sem saberem o que é viver e, que conseguiram? Enganarem-se e enganarem, o que não traz felicidade.Vivemos para sermos felizes.
Ginger disse…
Brown Eyes... que dizer?!?... subscrevo tudo o que dizes... entendo tudo o que dizes... sinto o que dizes...

Esta sociedade de que faço parte, enoja-me.

Mas ás vezes é tãooooooo difícil remar contra a maré.


Beijinho*
Brown Eyes disse…
Dificílimo Ginger. Mas não é dos fracos que reza a história. Beijinho
Alexandre Guerra disse…
Ei, vim agradecer a visita no meu blog e te dizer que estarei sempre aqui te acompanhando.
bj
Ginger disse…
A propósito deste teu post... lembrei-me há bocado de te perguntar se já alguma vez viste o Fight Club. É que se não viste, acho que devias de ver. Irias adorar a mensagem que transmite.

Até fiz um post sobre esse filme há uns tempos, de tão fantástico é. ^^


kiss*
Brown Eyes disse…
Não vi o filme mas logo que tenha oportunidade vou ver. Vou procurar o teu post sobre o assunto. Obrigada. Beijinho.
eu disse…
Infelizmente há quem persista em viver de aparências e de coisas que o bom senso manda que não persistam, mas a vaidade fala muito mais alto.
É pena, mas é a realidade.
Beijinhos

Mensagens populares deste blogue

A droga da fama

Ao longo da minha vida fui tirando conclusões que vou comparando com os acontecimentos do dia a dia. Muito cedo descobri que ser famoso, ser conhecido, ou até mesmo ter a infelicidade de dar nas vistas, mesmo sem nada fazer para e por isso, era prejudicial, despertava inveja e esta, por sua vez, tecia as mais incríveis teias. Todos, algum dia, foram vítimas de um boato. Todos descobrimos a dificuldade em o desfazer, em detectar a sua origem mas, todos, sabemos qual o seu objectivo: ceifar alguém. Porque surge ? Alguém está com medo, medo de que alguém, que considera superior, se o visse igual ou inferior não se sentiria barricado, lhe possa, de alguma maneira, fazer sombra. Como a frontalidade é apanágio apenas de alguns e porque, a maior parte das vezes, tudo não passa de imaginação, não se podendo interpelar ninguém com base nela, não havendo indícios de nada apenas inveja parte-se, de imediato, para o boato. Assim, tendo como culpado ninguém, porque é sempre alguém que ouviu

Carnaval de Vermes

Vermes, quem são? Aqueles que jogam sujo, aqueles que não medem meios para chegarem a um fim, aqueles que prejudicam deliberadamente, aqueles a quem eu afogaria à nascença e sou contra à justiça feita pelas próprias mãos mas, afogava-os, com todo o prazer.  Não merecem viver,  muito menos relacionarem-se com gente. Vocês acham que sou condescendente só porque o verme é vizinho, conhecido, amigo ou familiar? Não. É verme e  como tal não lhe permito sequer que respire o mesmo ar que eu.  Se todos pensam assim? Não. Há quem pense que temos que aceitar certo tipo de vermes, que há vermes especiais,  os   do mesmo sangue, porque fica bem haver harmonia no lar ou até porque … sei lá porquê, não interessa.   Não sei? Não será porque têm medo de serem avaliados negativamente, pela sociedade, se houver um verme na família, se tomarem uma decisão radical para com esse verme? Se for filho têm medo que o seu papel como progenitores seja posto em causa, que isso demonstre que falharam, que  

Surpreendida com rosas

Um dia, há uns anos largos, anos cinzentos, daqueles em que tudo se encrespa, entra pelo meu gabinete uma florista, que eu conhecia de vista, com um ramo enorme de rosas vermelhas e uma caixa com um laçarote dourado. Ela: Mary Brown? São para si. Eu: Sim, mas,… deve, deve haver aí um engano. Não faço anos hoje, nem conheço ninguém capaz de me fazer tal surpresa. Ela: Não há não. Ligaram-me, deram-me o seu nome, local de trabalho, pediram-me que lhe trouxesse este ramos de flores, que lhe comprasse esta prenda e que não dissesse quem lhe fazia esta surpresa. Aliás, acrescentaram, ainda, que a Mary nem o conhece mas, ele conhece-a a si. Eu: O quê? Está a brincar comigo, não? Não, não posso aceitar. Fiquei tão surpreendida que nem sabia como agir, aliás, eu estava a gaguejar e, acreditem, não sou gaga. Ela: Como? Eu: Não posso aceitar. Não gosto muito de ser presenteada, prefiro presentear, muito menos por alguém que não conheço. Imagine!  Era só o que me faltava. Obrigada mas não