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Mãe


Mãe onde estás?
Que saudades tenho tuas, do teu colinho, do teu miminho.
Lembro-me dos quilometros que percorrias, do dinheiro que gastavas para me ver. Lembro-me que eras capaz de comer batata com batata para poderes ter dinheiro para me ligares, para me vires ver e para me comprares um miminho semanal. Mesmo longe sentia o teu amor constante, lembro-me da solidão em que vivias mas, mesmo só, não te esquecias de mim. Lembro-me de que nunca te deram o valor que tinhas, nunca te compreenderam mas tu continuavas a lutar por mim.
Porque será que eles te odiavam? Porque não tinham a tua força? Eu compreendo porque me deixaste lá, lá, apesar de tudo, eu vivia em melhores condições, tu vivias naquele quarto minúsculo sem nada. Mas tinhas o meu amor. Esse sempre tiveste. Sei que era esse Amor que te dava força, aquela força que te levava a levantar sempre que te derrubavam. Lembraste das bofetadas que te deram? Logo eles, logo quem nada fez por ti. Avisei-te tantas vezes: Mãe pensa em ti, não sejas escrava de quem não merece mas tu vivias na ilusão. Ilusão essa que te levou a cair tantas vezes. Eles deviam ser os primeiros a ter orgulho em ti mas eram os primeiros a enterrar-te. Já viste que fizeste a tua vida do nada? Que te deram eles? Nada. Que te roubaram?Tudo. Eles nasceram das heranças. Quantas receberam? Que vida tiveram!!! Fácil, demasiado fácil e criticavam-te a ti? Logo a ti? A ti que trabalhavas sem fim por mim? Lembraste que havia dias que nem dormias? Tudo por mim. Trabalhar, Estudar e Trabalhar. Que vida Mãe. E ainda tinhas tempo para os ajudar. Quantas vezes os limpaste? Quantas vezes correste para eles? Para quê Mãe? Para quê tudo isso. Só tenho pena que eu não te tenha dado o que merecias. Merecias tudo mas, claro, mais uma vez, não o tiveste. Deram-te "nada". Tentaram matar-te.
A injustiça fere-te não é mãe? Todos nós temos uma época cega e eu também a tive. Tão cega que até eu fui injusta para ti. Naquela época o dinheiro cegava-me e não te via, não via o sofrimento da tua alma. Quanto me arrependo mãe. Será tarde? Lembras-te das mensagens que eu deixava nos teus livros:Mamã gosto de ti. Teria eu medo que te roubassem? Seriam os meus ciúmes que me cegavam ou a visão que o dinheiro me dava? Nunca te vendeste e eu fi-lo. Vendi-me precisamente na altura em que mais precisaste de mim e tu continuaste, sempre, mas sempre a acreditar nos mesmos valores e sempre a acreditar em mim. Tudo que fizeste foi com intuito de me dares uma lição mas... eu estáva cega. Não aprendi nada Mãe. Não via nada, nem o quanto estava a ajudar a enterrar-te.
As cobras enlearam-se a mim e fiquei encantada. Como pude fazer-te isso Mãe? Tu só me tinhas a mim. Devia saber que quando me dizias "não" era porque não podias dar um "sim". Enfim Mãe...
Queria castigar-te e tu só querias ser feliz, feliz com o que tinhas, com o que podias ter mas eu queria tudo!!!!!
Obriguei-te a fugir Mãe e nem isso assumi. Disse, vezes sem conta, que me tinhas deixado.

Mãe terei eu perdão?

Brown Eyes

Comentários

Cu de Barbas disse…
Um texto mt bonito e sincero q a espaços m lembra a minha historia pessoal.

Cometemos mts erros por imaturidade,uns podemos remediar,outros nem tanto.Ms o q importa mesmo é aprender c eles e nao os tornar a repetir no futuro.
Pi disse…
Emocionei-me agora!!

E o ripp tem muita razão quando diz que cometemos muitos erros por imaturidade, em que uns podemos remediar e outros que nem por isso, apenas aprender com eles!!

Belo texto, muito sentido, muito comovente... tivessemos nós o poder de mandar no tempo...

Um grande beijinho*
Ginger disse…
Admito que fiquei com lágrimas nos olhos...

Adorei o teu texto.

Ela perdoa-te... o amor de mãe é infinito.

Mas nós, mesmo depois de perdoados, temos de continuar a lidar com os nossos demónios até nos perdoarmos a nós próprios.


Kiss*

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